Estudo Fundamentos da Fé Cristã Nº 70
Manual de Teologia ao alcance de todos.
Autor: James Montgomery Boice.
Postado por: Erleu Fernandes da Cruz.
Capítulo 12 –
A GRANDE COMISSÃO.
É impossível discutir a responsabilidade dos cristãos na comunhão na
igreja sem esclarecer que parte de sua atividade deve ser direcionada para o
mundo. Gene Getz observa isso em sua referência à saúde e vitalidade da Igreja:
“Os cristãos precisam de três
elementos vitais para tornarem-se cristãos maduros. Eles precisam de um bom
estudo bíblicos que lhes dê segurança espiritual e teológica; eles precisam de
relacionamentos profundos e gratificantes tanto uns com os outros como com
Jesus Cristo; precisam ver pessoas indo a Jesus como resultado do testemunho
individual e coletivo para o mundo não cristão”. (GETZ, 1074, p. 80).
A Igreja não existe para satisfação dos interesses de seus membros.
Estamos no mundo para prestar testemunho da graça de Deus em Cristo. Somos
[...] a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que [anunciemos] as virtudes daquele que [nos] chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz” (1Pedro 2:9).
O equívoco mais comum que os cristãos cometem nesse ponto é admitir a
importância da Grande Comissão, porém atribuí-la ao trabalho dos que são
especificamente preparados para ela: os ministérios. Alguns são chamados à obra
missionária como uma vocação especial, mas testemunhar de Cristo não cabe só a
estes; é dever de todo cristão.
A aceitação dessa realidade foi um fator decisivo na expansão
impressionante da Igreja primitiva. Não foram somente Paulo e outros líderes
que levaram o evangelho aos confins mais longínquos do mundo romano. Pelo
contrário, muitos líderes da Igreja não eram particularmente zelosos com o
esforço missionário. Todavia, os convertidos comuns, onde estivessem,
anunciavam o Senhor.
O historiador Edward Gibbon, simpatizante do cristianismo, mostrou que o
evangelho já havia alcançado o litoral da Índia por volta do ano 49, e as
fronteiras da China em torno de 41 d.C.
Tertuliano, escrevendo por volta do ano 200, declarou aos seus
contemporâneos romanos:
“Praticamente nascemos ontem, e já ocupamos todos os lugares no meio de
vocês – cidades, ilhas, fortalezas, vilas, mercados, campinas, tribos, empresas
palácios, senado, fórum –. Não deixamos nada para vocês, a não ser os templos
de seus deuses”. (ROBERT E DONALDSON, 1963, p. 45).
Como esse fenômeno ocorreu? Gibbon escreveu que a Igreja primitiva
“tornou-se a tarefa mais sagrada de um novo convertido difundir entre seus
amigos a parentes a bênção inestimável que havia recebido”. (GIBBON s/d p.
388).
Adolf Von Harnack, um grande historiador cristãos, declarou:
“Os missionários mais numerosos e bem-sucedidos da religião cristã não
foram os mestres, mas os cristãos, por causa de sua lealdade e coragem [...]
Era característica dessa religião que todos que confessavam a fé se dedicasse
ao serviço de sua propagação [...] Não podemos hesitar em crer que a grande
missão do cristianismo foi, na realidade, suprida por meio dos missionários
informais”. (HARNACK, 1961, p. 366-368).
Missionários informais. Isso é o que todos os cristãos, em toda parte,
deve ser.
O IDE DO SENHOR.
Os cristãos deveriam deixar o seu conforto, levar o evangelho de Jesus
Cristo às pessoas que muitas vezes os odeiam
e ridicularizam, assim como o fazem com sua mensagem. Há muitas razões
para isso, porém a principal é o fato de os seguidores de Cristo não estão
livres para determinar suas prioridades. Foi-nos mandado evangelizar.
Esse mandamento, conhecido como a Grande Comissão, é encontrado cinco
vezes no Novo Testamento; uma vez em Mateus, Marcos, Lucas e João, e uma vez no
livro de Atos. Não é possível minimizar a importância de um mandamento
mencionado nesses quatro Evangelhos.
Em cada inserção, a ênfase da Grande Comissão da Igreja é um pouco
diferente, o que nos convida a estudá-la e refletir sobre diferentes ângulos.
Em Marcos, a ênfase é no juízo final. “E disse-lhes: ide por todo o mundo,
pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas
quem não crer será condenado” (Marcos 16:15-16).
Em Lucas, a ênfase está no cumprimento da profecia:
“Então, abriram-lhe o entendimento para compreenderem as Escrituras. E
disse-lhe: Assim está escrito, assim está escrito que o Cristo padecesse e, em
seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as
nações, começando por Jerusalém”. (Lucas 42:45-47).
No relato de João, Jesus colocou o plano de Deus em contexto de Sua
própria missão dada pelo Pai: “Assim como o Pai me enviou eu também vos envio a
vós”. (João 20:21).
Em Atos, o mandamento está vinculado a um
projeto para evangelização do mundo: “Mas recebereis as virtudes do Espírito
Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra”, (Atos 1:8).
A declaração mais conhecida da diretriz pessoal de Jesus Cristo a todos
os seus seguidores está em Mateus, onde a ênfase recai sobre a autoridade de
Cristo:
“E, chegando-se Jesus, falou-lhes dizendo: É-me dado o poder no céu e na
terra. Portanto, ide, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e
do filho, e do Espírito Santo, Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu
vos tenho mandado; e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos”. (Mateus 18: 18-20).
O Dr. R. C. Sproul, importante teólogo americano, participou, quando
ainda era estudante, de um curso de História da Igreja dado pelo professor John
Gerstner. Em determinada aula, o professor discorreu sobre a predestinação e,
como era de seu costume começou a fazer perguntas aos alunos. Sproul no final
de um grande semicírculo. Gerstner pela outra ponta.
Ele disse: “Respondam-me agora: se a predestinação é verdadeira, por que
deveríamos fazer evangelismo”? O primeiro aluno disse simplesmente: “Não sei”.
O professor dirigiu ao próximo da roda, que disse: “Derrubou-me”. O próximo
seminarista respondeu: “Estou contente que o senhor tenha levantado essa
questão, porque sempre tentei encontrar resposta”.
O professor foi percorrendo todo o semicírculo, indagando aos seus
alunos um por um. Cheio de temor, ele também aguardava a sublime resposta para
o impenetrável mistério daquela pergunta.
Por fim, Gerstner chegou até ele e perguntou: “Bem, Sr. Sprour, imagino
que o senhor tem a nossa resposta. Se a predestinação é verdadeira, por que
deveríamos fazer evangelismo”?
Ele lembra que deslizou em sua cadeira e começou a desculpar-se: “Bem,
professor Gerstner, sei que isso não é o senhor que está querendo, e sei que
deve estar procurando alguma resposta intelectual e profunda que não estou
preparado para dar. Contudo, ocorre-me um pequeno ponto que acho de deveríamos
observar aqui. Deus nos manda evangelizar”.
O professor abriu um largo sorriso e disse: “Sr Sprour. Deus nos manda
evangelizar”. E prosseguiu irônico: “E que poderia nos seria mais
insignificante do que o fato de o Senhor da glória, o Salvador de sua alma, o
Senhor Deus onipotente, tê-lo mandado evangelizar”? (SPROUL 1977, p. 127-128).
Jesus não apenas nos manda evangelizar, Ele nos diz também como fazê-lo.
Primeiro, devemos fazer discípulos de todas as nações. Temos obrigação de
pregar o evangelho a eles, de forma que pelo poder das Escrituras e do Espírito
Santo eles se convertam de seus pecados e entregaram-se a Cristo, passando a
segui-lo como seu Senhor.
Evangelismo é a primeira e óbvia tarefa nessa Comissão. Por outro lado,
sem o que vem depois dele, o evangelismo perde muito de seu sentido.
Jesus foi em frente para dizer, em segundo lugar, que aqueles que são
seus devem conduzir seus convertidos ao ponto de serem publicamente batizados
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Isso não significa que, num
instante, deve ser providenciada uma cerimônia de batismo. Não é por aí. Ao
contrário, ele deve significar duas coisas:
Primeiro, o total comprometimento de coração com Jesus como Senhor e
Salvador deve tornar-se público. É uma declaração dos outros cristãos e do
mundo de que as pessoas que está sendo batizada pretende seguir a Jesus.
Segundo, o novo cristão está agora se unindo à Igreja, o corpo visível
de Jesus Cristo. Se houver uma conversão real, ele vai querer estar
identificado com outros cristãos.
Por fim, Jesus instruiu os que levam à frente a Sua Comissão para que
ensinem aos outros que Ele tem lhes ensinado. Uma vida inteira de aprendizado
segue a conversão e a adesão à Igreja.
A obra missionária completa é anunciar o evangelho, ganhar homens e
mulheres para Cristo, trazê-los para a comunhão da Igreja e, então, cuidar para
que se tornem discípulo aprendendo as verdades das Escrituras.
Quando obedecemos ao Senhor nesse assunto, somos encorajados por duas
coisas: toda autoridade foi dada a Jesus, e Ele prometeu que estará conosco
todos os dias até a consumação dos séculos. Olha que é uma promessa e tanto!
Recordamos a passagem no começo do Evangelho de Mateus onde o
recém-nascido Jesus recebeu o Seu nome. “Eis que a virgem conceberá e dará a
luz um filho, e ele será chamado pelo nome de EMANUEL. (Emanuel traduzido é:
Deus conosco) (Mt 1:23). Somos informados de que o grande Deus do universo se
tornou Deus conosco por meio da encarnação. É uma grande notícia.
Contudo, no capítulo final do livro, somos informados de que Deus não
somente esteve conosco durante 33 anos de Sua vida na terra; por causa de Sua
ressurreição. Ele está conosco para sempre, em todos os lugares, e da mesma
forma. O todo-poderoso Jesus Cristo estará conosco para nos abençoar quando
sairmos para anunciar Seu evangelho.
A IRA DE DEUS.
Uma segunda motivação para a empreitada missionária é a necessidade dos
homens e das mulheres. Todos estão perdidos sem Cristo. A maior necessidade do
mundo é escapar do terrível juízo de Deus que paira sobre a humanidade. A
opinião pública em nossos dias é contra essa ideia. No entanto, a Bíblia ensina
isso de forma clara, e os cristãos devem agir segundo a Palavra de Deus.
Paulo escreveu aos efésios que antes de sua conversão eles estavam sem
Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Efésios 2:12).
Jeremias descreveu o povo como ovelhas perdidas (Jr 50:6). Jesus contou
parábola sobre perda: Uma ovelha, uma moeda, e um filho (Lucas 15). João, por
sua vez escreveu: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está
condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus (Jo 3:18).
O ensinamento de Paulo no livro de Romanos começa assim: ”Porque do céu
se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade a injustiça dos homens que
detêm a verdade em injustiça (Rm 1:18). Em Apocalipse 20:11-15, ficamos sabendo
do julgamento do grande trono branco. Naquele julgamento todos terão que
prestar contas, e os que tiverem seus nomes no Livro da Vida estarão perdidos
para sempre.
Nada é tão importante para qualquer indivíduo quanto escapar da ira de
Deus, quer a pessoa tenha conhecimento dessa necessidade, quer não. Embora as
pessoas fora de Cristo possam não ter conhecimento do perigo que correm, não há
desculpa para que os cristãos desconheçam isso. A consciência dessa necessidade
terrível deve impulsionar todos nós que encontramos a graça de Deus em Cristo a
falar do evangelho da maneira mais sábia, mais relevante e mais ampla que
pudermos.
O AMOR DE CRISTO.
Por fim, o amor do Senhor Jesus Cristo deve ser uma forte motivação
missionária. Pulo escreveu:
“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando à nós assim: que, se
um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para os que
vivem não vivam mais para si, mas por aquele que morreu e ressuscitou”
(2Coríntios 5:14,15);
Esses versículos não estão referindo-se nosso amor por Jesus, embora
isso, talvez, possa ser um incentivo para a missão. Refere-se, entretanto, o
amor de Cristo esperando por meio daqueles que fazem parte de Seu povo. Ele ama
o mundo por nosso intermédio, e Seu amor devia constranger-nos a identificar e
encontrar aqueles que precisam do evangelho.
Eis aqui duas histórias por meio das quais podemos avaliar a presença ou
a ausência do amor de Cristo pelos outros em nossa vida.
Durante os meus anos de Basileia, fazendo faculdade, conheci Sheila. Ela
tivera uma história conturbada na Inglaterra e chegou à Suíça ainda jovem na
esperança de encontrar uma vida melhor. A moça era muito solitária. Carente de
afeto, ela se uniu a um homem sem casar que a engravidou e depois a abandonou
com um bebê para cuidar. No momento em que a encontrei, a criança estava com
quatro anos de idade, e Sheila parecia sempre desconfiada das pessoas, além der
muito hostil à igreja e ao cristianismo.
Como o tempo, pelo testemunho da comunidade de língua inglesa, ela se
tornou uma cristã, e na época em que eu deixava a Suiça para retornar a América,
Sheila estava se imigrando para o Canadá. Minha esposa e eu nos correspondemos
com ela cerca de seis meses após a sua chegada no Canadá, e tivemos a impressão
de que ela não estava se encaixando em nenhum dos grupos cristãos do bairro.
Decidimos visitá-la, e descobrimos que era verdade.
Então, começamos a falar sobre ela a várias pessoas cristãs que
conhecíamos a passamos a conhecer a verdade. Havia um leve interesse da parte
delas, porém amor não. Elas nos diziam:”Há, sim. Há uma igreja muito boa por
aqui”. Davam-nos o nome. Algumas vezes, era uma Igreja Presbiteriana, outras
vezes, uma Igreja Batista, e assim por diante. Todavia, em nenhuma das
conversas disse: ”Dê-me o nome e o endereço dela. Vou aparecer e convidá-la
para ir comigo no domingo ao culto no domingo de manhã”.
Por fim, sentindo-se muito infeliz, ela trocou aquela cidade por outra
e, mais uma vez, envolveu-se com más companhias. Até que, depois de muito
esforço, perdemos contatos com ela.
A segunda história é mais otimista. Foi contada no Congresso de Berlim
sobre Evangelismo em 1966 pelo Reverendo Fernando Vangioni, que hoje trabalha
na Associação Billy Graham.
Ele disse que estava na América do Sul para uma série de encontros
evangelísticos e, após um deles, uma mulher se aproximou e disse: “quero saber
se o senhor teria algum tempo para conversar com uma moça que trarei a reunião
de amanhã à noite. Ela foi para Nova Iorque, alguns anos atrás, com muita
esperança, achando que a América era a terra das oportunidades. Mas, em vez de
tudo dar certo, ela passou por tempos terríveis
naquela cidade. Foi abusada por um homem atrás do outro. Todos a
trataram mal. Agora ela voltou ao nosso país muito amarga e com resistência ao
cristianismo”. O evangelista disse que falaria com a moça.
Na noite seguinte, a jovem estava lá. Vangioni contou que nunca tinha
cruzado com olhos tão duros ou ouvido, uma voz tão agressiva. Por fim, vendo
que não estava progredindo na conversa com ela, ele perguntou: ”Você permite
que eu ore por você”? “Ore, se quiser. Contudo não pregue para mim e não espere
que eu ouça” – foi a resposta.
O evangelista começou a orar, e, à medida que orava ela foi
entristecendo-se. Alguma coisa na tragédia daquela vida fez com as lágrimas
escorressem pelo seu rosto. Até que ela parou. Não havia nada mais a acrescentar.
Ele disse: “Tudo bem, pode ir”.
No entanto a jovem não foi. Tocada por aquela manifestação de amor, ela
respondeu: “Não, eu não vou. Você pode pregar para mim, agora. Nenhum homem
tinha chorado por mim antes”.
Precisamos perguntar se alguma vez fomos tocados de verdade por alguém
que está perdido e sem consciência do amor de Cristo. Dizemos: “Temos uma
igreja maravilhosa. Você iria lá”?, ou, “saímos do nosso comodismo para
conhecer e comunicar-se com essa pessoa”?
Deveríamos ser capazes de dizer como Paulo: “Porque se enlouquecêssemos,
é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós. De sorte que somos
embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos,
pois, da parte de Cristo que vos reconcilieis dom Deus”. (1 Coríntios 5:13,20).
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Graças a Deus que finalizamos estas 70 postagens. Agradeço primeiramente
à Deus e a cada um de vocês que dispuseram a ler, entender e analisar todas as
publicações. Espero que tenha sido útil e aos seus conhecimentos e crescimentos
da vossa fé. A partir de outubro estudaremos uma das cartas pastorais.
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“Que o Senhor vos abençoe e vos guardem. Que o Senhor faça resplandecer
o Seu rosto sobre todos vós e tenha misericórdia de vós. Que o Senhor sobre vós
levante o rosto e vos dê a paz”. (Números 6:24-26).
Abraços de total fraternidade deste vosso amigo: Erleu Fernandes da Cruz. Grato estou pelo
seguidores desse Blog Jerusalém é Aqui. Foram 70 publicações que juntos estudamos
esses assuntos teológicos. Breve iniciaremos outro estudo. Deus vos abençoe.
Amem?
Curitiba, 1 de Outubro de 2016.
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