sábado, 19 de março de 2016

ESTUDO DE TEOLOGIA Nº 42

Estudo do Livro Fundamentos da Fé Cristã Nº 42
      Um manual de Teologia ao alcance de todos.
      Autor: James Montgomery Boice
      Postado por: Erleu Fernandes da Cruz.
      Tema central:
      JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ: A ESSÊNCIA DA SALVAÇÃO.
     

       Martinho Lutero, que, que devido às suas considerações acerca da justificação, deu início a Reforma Protestante no século 16, escreveu:
     “Quando nosso conhecimento sobre a justificação for questionado, tudo o mais foi também. [...] A justificação foi a essência que dá origem a todas as outras doutrinas. Ela agora, nutre, edifica, preserva e defende a Igreja de Deus e, sem ela, a Igreja do Senhor não pode existir. [...] Ela está cima de qualquer doutrina”. (Plass, 1959, p. 702-4, 715).
     João Calvino, que seguiu Lutero no desenvolvimento da Reforma, defendia o mesmo que ele, referindo-se à justificação como a essência da religião.
     Thomas Watson, por sua vez, fez a seguinte observação:
     “A justificação é a essência e o pilar do cristianismo, e os erros cometidos no que tange a esse tema são muito perigosos. É como um defeito em uma fundação. A justificação de Cristo é a fonte de água viva.  Deixar o veneno das falsas doutrinas contaminar essa  fonte é uma atitude condenável”. (Watson, 1970, p.226).
     Essas declarações não são exageradas, mas sim realistas, pois a justificação pela fé é a resposta do Senhor para as mais básicas de todas as perguntas referentes à religião: Como uma pessoa pode justificar-se diante de Deus?
     Segundo a Bíblia, não podemos justificar a nós mesmos. Esta é a doutrina do pecado. Rebelamo-nos contra Deus e, se estamos contra a Ele, não há justificação para nós. Somos todos transgressores e destruídos [estamos] da glória de Deus (Rm 3:23).
     De acordo com a doutrina da justificação, somente por intermédio da obra de Cristo, recebida pela fé, é possível que nos justifiquemos diante de Deus:
     “A justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos que crêem; [...] sendo justificados gratuitamente pela sua graça, em Cristo Jesus”. (Romanos3:22-24).
     “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei”. (Romanos 3:28).
     “Mas, aquele que não pratica, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça”. (Romanos 4:5).
     Como podemos ver, a justificação é obra divina. Sabendo disso, Paulo afirmou: ”É Deus quem os justifica. Quem os condenará? (Rm 8:33b-34a).
     1º Sub-título:
     O VEREDITO ACERCA DO QUE DEUS FEZ.
     Dois pontos merecem destaque: o primeiro é que, de acordo com a citação de Romanos, é Deus que nos justifica, e não nós mesmos. Acerca desse tema John Murray declarou:
     “A justificação não é uma desculpa para os erros humanos, nem um recurso auto-defensivo. Sequer é a confissão ou o sentimento que a confissão traz. A justificação não é um exercício religioso em que nos envolvemos, por melhor  ou mais nobre que este seja, e, se quisermos entendê-la e apropriar-nos de sua graça, devemos voltar nosso pensamento à obra de Deus, que busca justificar o ímpio (que se converte)” (John Murray, 1955, p.118).
     A imagem do triângulo da salvação apresentada em oura discussão sobre a expiação/propiciação e redenção no livro II desta obra ajuda-nos a entender melhor esse princípio.
     Expiação/propiciação, redenção e justificação são palavras essenciais para a compreensão da morte de Cristo, e são elas que, ao conectar Jesus, o Pai e os cristãos, formam o triângulo anteriormente mencionados.
     Somos alvos da redenção e da justificação e, portanto, não contribuímos em nada para a nossa própria salvação. Esta é dada a nós por Cristo, por meio da realização de duas obras: a expiação/propiciação e a redenção. Deus, por Sua vez, realiza a propiciação quando Jesus aplaca Sua ira, iniciando assim, a justificação, por meio da qual os pecados dos ímpios são perdoados.
     Outro ponto que merece destaque é que a justificação é apresentada a nós como um pronunciamento legal, e não como algo que apenas nos torna imediatamente mais santos.
     É claro que, quando Deus nos justifica e realmente assume o controle de nossa vida, o processo natural é que nos tornemos cada vez mais santo. Entretanto, a justificação não tem relação direta com a transformação do caráter. O fato de um juiz absolver alguém não significa que este seja inocente. Na verdade, a opinião do juiz não implica nenhuma mudança no réu, visto que sua declaração acerca da inocência do mesmo se refere apenas ao seu ponto de vista pessoal no que tange a acusação que foi feita, não ao caráter do acusado em si.
     Assim, embora haja controvérsia quanto ao uso do termo  justificação com conotação legal nas Escrituras, encontramos muitas razões para entendê-lo dessa maneira:
     1—O Antigo Testamento se refere ao Senhor como o Deus da Lei. De acordo com a mentalidade hebraica. Esse título distingue dos deuses das nações vizinhas. Além disso, segundo essa visão, ele é também o Deus do juízo, pois em um universo governado por um Senhor soberano e moral o mal deve ser punido.
     Isso foi o que Abraão deu a entender quando o Senhor lhe falou acerca da destruição sobre Sodoma: “Não faria justiça o juiz de toda a terra”? (Genesis 18:25b). Nesse texto, no qual é retratado o início da história de Israel. Deus é considerado um juiz. Em passagens posteriores, esse pensamento já se torna mais elaborado:
     “O Senhor se levanta para pleitear e sai a julgar os povos. O Senhor vem em juízo contra os anciãos do seu povo e contra os príncipes, é que fostes vós que consumistes esta vinha; o espólio do pobre está em vossas casas” (Isaias 3:13-14).
     “Mas o Senhor, está assentado perpetuamente, já preparou o seu tribunal para julgar. Ele mesmo julgará o mundo com justiça; julgará os povos com retidão”. (Salmo 9:7-8).
     Como podemos notar a justificação está sempre ligada ao juízo:
     “Não entre em juízo contra o teu servo, porque à tua vista não se acabará justo nenhum vivente”. (Salmo 143:2).
     “Perto está o que me justifica: quem contenderá comigo”? (Isaias 30:8a).
     A mesma ideia aparece quando, em Deuteronômio 25:1, é destacado o tema do juízo humano:
     “Quando houver contenda entre alguns, e vierem o juízo para que os juízes  os julguem, os justos justificarão e ao injusto condenarão”.
     2—A justificação é contrastada com a condenação:
     “O que justifica o ímpio e o que condena o justo abomináveis são para o Senhor, tanto um quanto o outro”. (Provérbios 17:15).
     Tendo em vista que condenar alguém também não significa  torná-lo ímpio, justificar uma pessoa não pode significar que ela imediatamente se tornará justa. Ambos os termos se referem a um decreto ou uma declaração pficial.
     3—O termo justificar é usado em diversas  passagens bíblicas para referir  ao processo de justificação. Por exemplo, em Romanos 3:4, Paulo citou o Salmo 51:4, dizendo:
     “Sempre seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso, como está escrito: Para que sejais justificados em tuas palavras e venças quando fores julgado”.
     O apóstolo não quis dizer com isso que o Senhor deveria ser justificado, pois Ele é e sempre será santo e justo. A intenção de Paulo era ressaltar que, ao longo de nosso processo de justificação, as palavras de Deus são responsáveis por mostrar-nos o quanto Ele é justo.
     As passagens que traçam um paralelo com essas são:
     “Todo povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João”. (Lucas 2:29).
     “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”. (1 Tim 3:16).
     4—Da mesma maneira, existem trechos na Bíblia que sustentam que algumas pessoas acreditam ser capazes de justificar e salvar a si próprias. Entretanto, ao lermos essas passagens, percebemos que isso não é possível:
     “E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração, porque o que entre os homens é elevado perante de Deus é abominação”. (Lucas 16:15).
     “E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E respondeu ele: Amarás  o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a sua alma, e de todas as suas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo [...] Ele, porém, querendo justificar a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo”?
     Ambas as passagens tratam de juízo. No primeiro exemplo, embora os réus tenham tentado provar que eram justos. Ficou, claro que não eram. Semelhantemente, no segundo exemplo, foi vã a tentativa do jovem de demonstrar que sua conduta correta era um indício de sua perfeição moral.
     Há outros textos que tratam do mesmo assunto, mas de maneira metafórica. De certe forma, a ideia de juízo está sempre presente na Bíblia. A respeito disso, Leon Morris afirmou:
     “O caso em questão em nada se difere do que acontece com os verbos julgar e absolver, que, embora sejam termos legais, podem ser usados fora do contexto jurídico sem sofrer alteração de sentido. Esse também é o caso do vocabulário ‘dicaioô’ [justificar], que, mesmo sendo um verbo essencialmente forense, é usado na Bíblia como sentido de sentença de absolvição”. (Morris, 1956, p. 260).
     2º sub-título:
     A JUSTIFICAÇÃO DE DEUS.
     O juízo divino é feito sempre em nome da verdade e da equidade. Sendo ímpios, como o Senhor pode justificar-nos? Se fôssemos declarar inocentes ou culpado, nosso ato seria uma afronta tanto a Deus como aos homens. No entanto, isso é o que Deus faz. Como ele pode fazer isso?
     A doutrina cristã prega a justificação pela fé. Como vimos, justificar significa declarar justo (perfeito), mas não tornar justo, ou seja, não necessariamente implica e santificação imediata de alguém. Entretanto, quando Deus declara que o cristão é justo, Ele o justifica não por causa de sua obras (boas ou más), mas por meio do sacrifício de Jesus.
     O Pai aceitou o sacrifício de Seu Filho como pagamento por nossas dívidas (pecados), imputando, assim, a justiça de Cristo a nós. Logo, não precisamos pagar mais por nossos pecados, a despeito do “salário do pecado ser a morte, o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Rm 6:23).
     Paulo desenvolveu esse pensamento em Romanos 3:21-26:
     “Mas, agora, se manifestou, sem lei, a justiça de Deus, sendo o testemunho da Lei e dos Profetas, isto é, justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos sobre todos os que crêem, porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificado gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé em seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados  dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”.
     A alguns anos, um grupo de ateístas distribui um folheto contendo meia dúzia de exemplos de pecados cometidos por personagens do Antigo Testamento.
     Um deles foi Abraão que, apesar de ter se disposto a sacrificar a honra de sua esposa para salvar sua própria vida, foi chamado, por Deus, de amigo. (2 Cr 20:7; Is 41:8).
     Jacó também foi usado como como exemplo para validar as dúvidas dos ateus em relação ao caráter do Senhor. Eles não entendiam por que alguém que trapaceou e mentiu poderia ser usado como referência para exemplificar a fidelidade do Pai, fato comprovado pela relevância dada por ele por meio da expressão ‘Deus de Jacó’ (Ex 3?6,15, 16;4:5; Mt 22:32; Mc 12:26; Lc 20:37; at 3:13; 7:32).
     Os mesmo questionamento eram levantados com relação a Moisés, que cometeu um assassinato, vivendo por um tempo como um fugitivo da lei egípcia, seguido de assassinato foi chamado de: homem segundo o coração de Deus. (1 Sm 2:35; 13:14).
     Assim, por meio desse material, o grande problema levantado pelos ateístas era o fato de não entenderem que tipo de Deus aceitaria ter Abraão como amigo, ou ainda, que tipo de Deus se agradaria de um homem como Daví?
     Na verdade, esse folheto apontava o fato  de que o próprio Senhor já havia reconhecido. Ele, apesar de justo e santo, por séculos recusou-se a condenar a humanidade, passando a justificar homens e mulheres como esses.
     Paulo esclareceu com precisão, essa situação em Romanos:
     “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”. (Romanos 3:25).
     Isso torna o Senhor injusto? Não, pois, por meio da morte de Cristo, o nome e os propósitos de Deus foram vindicados (justificados). Graças ao sacrifício de Jesus, o Senhor justificou (e continua justificando) os ímpios.
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     Continuaremos no próximo sábado com o 3º sub-tema:  A SALVAÇÃO DE CRISTO É ÍMPAR.
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     Fiquem com Deus e que Ele vos abençoe.
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