Estudo da Fé Cristã Nº 65
Teologia ao alcance de todos.
Autor: James Montgomery Boice.
Postado por: Erleu Fernandes da Cruz.
Tema Central: TEMPO E HISTÓRIA
Capítulo 7
SÍMBOLOS E SELOS DA
SALVAÇÃO.
O capítulo anterior mencionou um trecho da Confissão de Westminster, o
qual fala sobre a leitura das Escrituras e a sã pregação como parte do culto
cristão comum. A Confissão prossegue tratando de outras áreas da adoração,
dentre as quais estão “a devida administração e digna recepção dos sacramentos.
(cap 21:5b).
Tem havido muitos debates na Igreja a respeito das ordenanças – a sua
quantidade, por exemplo, e de uma forma particular de ministração deles é
necessária para existência de uma Igreja verdadeira --. Em grau maior ou menor,
entretanto, quase todos os cristãos admitem que há ordenanças instituídas por
Jesus, os quais devem ter seu lugar na adoração ou no culto comum do povo de
Deus.
A palavra sacramento [ou ordenança] (assim como a palavra Trindade) não
é encontrada na Bíblia. Esse termo ingressou na Teologia por meio da Vulgata
Latina, onde é costumeiramente para traduzir o vocábulo grego mysterion.
Sacramento identifica aquelas ordenanças (práticas) às quais o Senhor conferiu
significância especial.
Peter Lombard (1100 – 1160) se referiu ao sacramento como “um sinal de
coisa sagrada”. (FAURWEATHER, 1956, p.
338).
João Calvino, em sua obra, As institutas, disse que um sacramento é:
“Um sinal exterior pelo qual Deus sela em nossas consciências as
promessas de Sua boa vontade dirigidas a nós com a finalidade de sustentar a
nossa fé; e nós, em retorno, confirmamos a nossa consagração diante do Senhor,
dos seus anjos e dos homens”. (CALVINO, 1960, p. 1172).
QUATRO ELEMENTOS DE UM SACRAMENTO.
De que maneira a Bíblia apresenta as diferenças entre determinações
práticas e os sacramentos da Igreja, tais como as leituras das Escrituras ou as
orações, os quais não são sacramentais? O que constitui um sacramento? Entendo
que há quatro exemplos:
1º- Os sacramentos são ordenanças divinas instituídas pelo próprio
Jesus. Nesse sentido, eles são similares às outras ordenanças que também fazem
parte da devoção da Igreja, como a oração, por exemplo. Jesus nos recomendou
orar. Os sacramentos, porem, diferem das coisas que podemos fazer, mas que não
são ordenanças.
Nós cantamos quando estamos reunidos e temos precedentes para isso,
inclusive o exemplo de Jesus e Seus discípulos (Mc 14:26). No entanto, cantar
hinos de louvor não é especificamente um mandado pelo Senhor e, por isso, entra
na categoria daquelas práticas permissíveis e, até mesmo, boas, mas não
obrigatórias.
Os sacramentos ou ordenanças, sim, são obrigatórios: a Ceia do Senhor
foi instituída por Jesus na noite em que ele foi traído, e o batismo foi
estabelecido pouco antes de Sua subida aos céus.
2º- Os sacramentos são ordenanças em que elementos materiais são
utilizados como símbolos visíveis de bênção de Deus.
No batismo o símbolo é a água. Na Ceia do Senhor, há dois símbolos: o
pão que simboliza o corpo do Senhor Jesus Cristo partido por nós, e o vinho que
simboliza Seu sangue derramado.
Essa característica é importante na compreensão da natureza de um
sacramento, pois ela separa o batismo e a Santa Ceia das outras práticas, as
quais são boas, mas são (apenas) sacramentais, uma vez que não utilizam
elemento material como símbolo.
O elemento material diferencia o sacramento da realidade que ele
representa. Um símbolo é um objeto visível que aponta para uma realidade
diferente (espiritual) e mais significante do que ele próprio.
Uma placa onde está escrito Nova Yorque aponta para Nova Yorque. Um
cartaz onde se lê: Beba Coca-Cola atrai a nossa atenção para essa bebida. De
forma análoga, o sacramento do batismo aponta para a nossa identificação com
Cristo em Sua morte. A Ceia do Senhor remete para a realidade de nossa comunhão
com Ele. No caso dos sacramentos, o símbolo é secundário, exterior e visível. A
realidade é primária, interior e invisível.
É bom ressaltar, no entanto, que nem o batismo nem a Ceia do Senhor faz
de alguém um cristão ou mantém alguém como tal. Na realidade, não nos tornamos
cristãos sendo batizados, nem permanecemos cristãos participando da comunhão
periodicamente. Esses símbolos simplesmente indicam alguma coisa que aconteceu
ou está acontecendo interna e invisivelmente.
Um símbolo indica propriedade, e os sacramentos ou ordenanças fazem isso
também, particularmente o batismo. Este mostra ao mundo e a nós mesmos que não
temos mais a nossa posse, mas, fomos comprados por um preço e, agora,
pertencemos a Jesus.
Essa verdade foi um grande estímulo para Martinho Lutero, que passou por
muitas tentações sem dúvida, por causa do estresse de estar na liderança de
Roma durante 28 anos. Nesses períodos de crises, ele chegou a questionar a
própria Reforma, questionou sua fé e, até mesmo, o valor da obra do Senhor
Jesus a seu favor.
Conta-se que nesses dias maus, Lutero tinha escrito em giz sobre a sua
mesa: “Baptizatus sum! (Eu fui batizado!). Isso lhe dava confiança no fato de
que ele realmente era de Cristo e tinha-se identificado com Ele em Sua morte e
ressurreição.
3º- Os sacramentos ou ordenanças são veículos de graça para alguém que
os compartilha com retidão.
Ao afirmar isso, precisamos ser cuidadosos para assinalar que não
estamos atribuindo algum poder mágico ao batismo ou à cerimônia da Santa Ceia,
como se a graça – a exemplo da medicina – fosse automaticamente dispensada
junto com os elementos materiais. Esse equívoco, o qual diz respeito tanto ao
sacramento quanto à graça, levou ao abuso do sacramento pele Igreja Católica e
chegou a alcançar alguns grupos emergentes da Reforma. Nesses casos, o
sacramento tomou o lugar da fé como meio da salvação.
Dizer que os sacramentos não são
mágicos ou mecânicos, entretanto, não quer dizer que não tenham nenhum valor.
Deus escolheu usá-los para encorajar e fortalecer a fé dos crentes. Assim
sendo, os sacramentos não só pressupõem o reconhecimento da graça do Senhor por
alguém que compartilha deles, mas também fortalecem a fé ao lembrarem ao
cristão o que significam e a finalidade de quem os instituiu.
John Murray escreveu sobre isso:
“Batismo é um veículo de graça e “transfere” bênção, porque é uma
autenticação da graça de Deus para nós. Ao aceitarmos essa autenticação,
descansamos na fidelidade de Deus, damos testemunho da sua graça e, com isso,
fortalecemos a nossa fé [...]. Na Ceia do Senhor, esse significado é aumentado
e cultivado, muito especialmente, na comunhão com Cristo e na participação da
virtude que procede de Seu corpo e sangue. A Ceia do Senhor representa esse
mistério sendo continuamente elaborado. Nós participamos do corpo e sangue de
Cristo por meio dessa ordenança. Dessa forma, enxergamos que a ênfase recai
sobre a fidelidade de Deus, e a eficácia reside na resposta que damos a essa
fidelidade”. (MURRAY, 1972, p. 367-368).
4º- Os sacramentos são selos, autenticações ou confirmações da graça que
eles significam.
Em nossos dias o uso do selo é cada vez menos freqüente, mas os exemplos
que temos mantém essa ideia.
O selo dos Estados Unidos da América aparece em um passaporte. Ele é
estampado no papel de forma que o documento não pode ser falsificado, validando
o passaporte e mostrando que seu possuidor é um cidadão dos Estados Unidos.
Outros documentos são autenticados por um tabelião público, cujo selo é
a confirmação do juramento feito.
Esses sacramentos [a Ceia e o batismo] são selos de Deus sobre o atestado
de que somos Seus Filhos e estamos em comunhão com Ele.
BATISMO.
O primeiro dos dois sacramentos [ou ordenação] instituídos por Jesus é o
batismo.
“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo poder no céu
e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas
que eu vos tenho mandado; e eis que estou convosco todos, até a consumação dos
séculos. Amem”. (Mateus 28:18-20).
Está claro, por esses
versículos, que o batismo é um “sacramento iniciatório”, pertencente à tarefa
de fazer discípulos. O texto bíblico fala da autoridade ou do senhorio de
Cristo e da pessoa batizada como alguém que reconhece Jesus e os seus poderes.
Algumas dificuldades aparecem no trato desse tema, como demonstra a
controvérsia que o cerca. Um bom início para nossos propósitos atuais pode ser
o reconhecimento de que há duas palavras intimamente relacionadas a batismo no
Novo Testamento, as quais não tem necessariamente o mesmo significado. A
primeira, bapto, significa mergulhar e imergir. A segunda, baptizo,
pode até significar imergir, mas elas aparecem com vários outros sentidos que
levam a um entendimento adequado do que as passagens que trazem essa palavra
querem expressar.
Na Bíblia, baptizo tem sido geralmente transliterada para
apresentar o termo batismo. Quando uma palavra é traduzida, com freqüência,
pode indicar uma multiplicidade de significados. Assim, se o termo baptizo tivesse
uma tradução fácil, uma palavra óbvia teria sido usada pata traduzi-la. Se
baptizo significasse apenas imergir,
então imergir seria o vocábulo. Falaríamos de “João o Imersor” ou recitaríamos:
“Ide, e fazei discípulos de todas as nações, “imergindo-os” em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo”. No entanto esse não é o caso. Devemos,
portanto, ir além do significado literal da palavra batismo, como imersão, para
alcançarmos um sentido metafórico mais importante do termo.
Sobre isso obtemos ajuda da literatura grega clássica. Os gregos usaram
a palavra baptizo desde o ano 400 a.C. até o segundo século depois de Cristo.
Em seus escritos, esse termo sempre apontava para uma mudança ou como podemos
apropriadamente dizer, uma mudança de identidade por alguns meios.
Dessa forma, para dar alguns exemplos, ela pode referir-se a uma mudança
ocorrida pela imersão de um objeto em um líquido, como no caso da roupa
tingida; pois se beber muito vinho e ficar bêbado, ou por um excesso de esforço
ou outras causas.
De todos os textos que podem ser citados da antiguidade, o que dá mais
clareza sobre esse tema é um do médico e poeta grego Nicander, o qual viveu em
torno de 200 a.C. Em uma receita para fazer conserva, ele usou ambas as
palavras, Nicander disse que o vegetal deveria primeiro, ser mergulhado (bapto)
em água fervente e, só então, batizado (baptizo) na solução de vinagre. Ambos
tinha a ver com imergir o vegetal na solução. Mas o primeiro ato era
temporário, enquanto o outro, a operação de batizar o vegetal, produzia uma
mudança permanente. Poderíamos dizer que o batismo tinha identificado o vegetal
com a salmoura.
Por esse sentido a palavra está clara em muitos textos, tanto no Antigo
como no Novo Testamento. Por isso, em Isaías 21:4, em uma tradução literal da
Septuaginta, lemos: “O meu coração me turba, a desordem me batiza”. O escritor foi mudado em um estado de
confiança tranqüila em Deus para um estado de temor ao experimentar grandes
perversidades e saber que terríveis juízos se seguiriam.
Semelhantemente, Gálatas 3:27 diz: “Porque todos os que fostes batizados
em Cristo já vos revestistes de Cristo” – os cristãos na Galácia haviam sido
identificados com Jesus.
O fato de a palavra baptizo poder ser usada metaforicamente não
significa que ela deve ser utilizada dessa maneira em passagens bíblicas que
tratem do sacramento do batismo. Isso quer dizer, que na realidade, tais
passagens requerem, acima de tudo, um significado metafórico, porque somente um
entendimento do batismo como identificação com Cristo dá sentido a elas.
Um exemplo desse texto é o em Marcos 16:16: “Quem crer e for batizado
(baptizo) será salvo”. As pessoas tem lido esse trecho e tirado a falsa
conclusão de que, a não ser que uma pessoa seja batizada (ou imersa) na água,
ela poderá ser salva. Deveríamos saber que tal conclusão é equivocada por causa
do ensinamento do restante das Escrituras sobre a maneira como alguém é salvo;
exclusivamente pela graça mediante a fé em Cristo. Se batismo fosse exigência
para a salvação, então o malfeitor crucificado ao lado de Jesus estaria em
apuros.
Somente quando abandonamos a ideia de que o versículo 16 de Marcos 16
refere-se à imersão na água e passamos a identificação do crente com Cristo, a
declaração de Jesus sobre o batismo torna-se clara. Reconhecemos, então, que o
Filho de Deus estava convidando os homens para uma crença racional nele,
seguida de um compromisso pessoal: “Quem crer em mim e está identificado comigo
será salvo”.
Então, Marcos 16:16 está em paralelo teológico com João 1:12:
“Mas todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus: aos que crêem em seu nome”.
Também em apocalipse 3:20:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a
porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo”.
Todos os três textos (Mac 16:16; Jo 1:12; AP 3:20) ensinam que deve
haver por parte do indivíduo que crê uma identificação com Jesus.
Outra passagem bíblica iluminada pelo significado metafórico da palavra
baptizo é: 1 Coríntios 10:1-2:
“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos
debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar, e todos foram batizados em Moisés,
na nuvem e no mar”.
Esse trecho da carta de Paulo é especialmente relevante para o
entendimento do batismo, uma vez que Israel não esteve submerso nem no mar nem
na nuvem. A nuvem estava atrás deles,
separando-os dos egípcios perseguidores. Os egípcios, sim, é que foram
submersos no mar e se afogaram. O sentido nesse texto é uma mudança de
identidade. Antes de cruzarem o mar Vermelho, os hebreus estavam em rebelião
com Moisés [e Deus a quem ele representava]. A atitude original deles mudou para
uma atitude de obediência e júbilo depois da travessia do mar.
BATIZADOS EM CRISTO.
O estudo da palavra batismo aponta para o significado primário de
batismo como um símbolo de nossa união com Cristo, por meio da obra do Espírito
Santo. Dessa forma, encontramos muita referência de ser batizado como o ou pelo
Espírito Santo, ou ser batizado em Jesus ou em nome de Jesus.
Em que aspectos somos identificados com Cristo no batismo? Em todos eles
– em Seu nascimento, Sua morte, Sua ressurreição –, mas, primordialmente, em
Sua morte e ressurreição.
Paulo falou sobre nossa identificação com Cristo em Sua morte quando
escreveu:
“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos
batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na
morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim
andemos nós também em (em vida nova) novidade de vida.”. (Romanos 6:3-4).
Somos batizados na morte de Cristo de dois modos.
Primeiro, quando Jesus morreu na
cruz nos enxergou como tendo morrido com Ele no que diz respeito ao nosso
pecado. O Pai levou o Filho à morte e, uma vez que todos os que crêem estavam
unidos a Ele pelo Espírito Santo, desde antes da fundação mundo, eles também
foram levados à morte. O pecado deles foi castigado, e podem agora entrar na
presença de Deus como seu povo justificado (perdoados e livres).
Segundo, há um prisma no qual a nossa união com Cristo em Sua morte
refere-se a nossa vida aqui e agora. Paulo declarou que os cristãos devem
considerar-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus por intermédio de Jesus
(Rm 6:11). Por meio da nossa identificação com Cristo em Sua morte, o poder do
pecado sobre nós é destruído, e ficamos livres para servir a Deus.
Também estamos identificados com Cristo em Sua ressurreição, conforme
declarou Paulo: “Porque fostes plantados juntamente com ele na semelhança de
sua morte, também o seremos na da sua ressurreição”. (Rm 6:5). Assim, como no
caso de nossa união com Cristo em Sua morte, essa identificação significa duas
coisas. (1) nossa ressurreição futura: -- porque, assim como todos morrem em
Adão, assim também tosos serão vivificados em Cristo (1 Coríntios 15:22); e (2)
novidade de vida agora (o tema principal de Romanos 6).
Na Carta aos Filipenses, Paulo escreveu a respeito de seu desejo de
conhecê-lo [a Jesus], e a virtude de sua ressurreição (Fp 3:10). O apóstolo
queria vivenciar o santo poder da ressurreição de Jesus Cristo enquanto se
dedicava ao serviço do Mestre.
O livro de Ezequiel contém uma profecia que se refere no trato de Deus
com Israel no fim da história. Seis homens entraram em Jerusalém para
pronunciar juízo sobre os habitantes, mas, antes de eles adentrarem a cidade,
um homem vestido de fino linho, com um tinteiro de escrivão na sua cinta,
aparece para marcar com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem
por causa de todas as abominações que se
cometem no meio dela [Jerusalém] (Ez 9:4). E aos outros foi dito: “Matai
velhos, e jovens; e virgens, e meninos e mulheres, até exterminá-los; mas todo
homem que tiver o sinal não vos achegueis (v 6).
Todos aqueles que crêem no senhor Jesus são identificados pelo Espírito
Santo de Deus como de Cristo – cristãos – e estão seguros nessa identidade.
A Bíblia diz: “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, sendo este
selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo
aparte-se da iniqüidade”. (2 Timóteo 2:19).
A CEIA DO SENHOR.
O segundo dos sacramentos protestantes é a Ceia do Senhor [ou Santa
ceia], que Jesus instituiu na noite anterior à sua crucificação. Essa cerimônia
está registrada em cada um dos evangelhos sinóticos (Mt 27:17-30; Mc 14:12-26;
Lc 22:7-23), mas o relato melhor e mais completo está em 1 Coríntios 11, em uma
passagem em que Paulo tentava corrigir alguns abusos envolvendo a Ceia, os
quais aconteciam na igreja dos coríntios. A importante passagem nos diz:
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei que o Senhor Jesus,
na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graça, o partiu e disse:
Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória
de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo. Este é
o cálice do Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que
beberdes, em Memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto,
qualquer que comer este pão e beber este cálice do Senhor, indignamente, será
culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e
assim coma deste pão, e beba deste cálice”. (1 Coríntios 11:23-28).
A Ceia do Senhor possui, assim como o batismo, todos os elementos de um
sacramento, porém se distingue do batismo, já que este é um rito iniciatório (o
qual testifica a identificação primária com Cristo, sem a qual ninguém pode ser
um cristão). A Santa Ceia é um sacramento contínuo, instituído para ser
observado repetidas vezes (todas as vezes que o comerdes e beberdes) durante
toda caminhada cristã. Essa característica da santa ceia é vista em seu
significado passado, presente e futuro.
O significado Memorial da Ceia do Senhor fica claro pelo termo em
memória. A última Ceia do Senhor com os seus discípulos remete à Sua Morte.
Recomendamos, em primeiro lugar, a Sua expiação substitutiva: o pão repartido
representa (não é) o corpo do Senhor partido por nós, e o vinho, Seu sangue
derramado em nosso favor.
A expiação tem a vez o requisito de nossa reconciliação com Deus, e o
termo substitutiva indica que tal reconciliação foi obtida pela morte de outra
pessoa em nosso lugar.
Por que Jesus morreu? A Bíblia ensina que todos os que nasceram são
pecadores, por terem desobedecido à Lei de Deus.
“Como está escrito. Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que
entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se
fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há um só”. (Romanos 3:10-12)
Ela afirma também “ que a alma que
pecar essa morrerá” (Ez 18:4) “e o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).
Essa morte substitutiva não é simplesmente uma morte física, mas também
espiritual.
Morte é separação. A morte física significa que a alma e o espírito
estão separados do corpo, e a espiritual, que a alma e o espírito estão
separados de Deus. Merecemos tal separação como conseqüência do nosso pecado,
mas Jesus se tornou nosso substituto ao entregar-se à morte física e espiritual
em nosso lugar.
Uma ilustração desse princípio é encontrada nos primeiros capítulos de
Gênesis. Adão e Eva pecaram e experimentaram o terror depois disso, mas Deus
lhes havia advertido:
“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De todas as árvores do
jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. (Gênesis
2:16-17).
A esta altura, Adão e Eva, provavelmente, não tinham uma ideia muito
clara do que fosse a morte, mas sabiam que era algo muito sério. Por isso,
quando pecaram pela desobediência e ouviram Deus aproximando-se deles no
Jardim, tentaram esconder-se.
No entanto, ninguém pode esconder-se de Deus. O Senhor os encontrou,
mandou que saíssem do esconderijo e começou a tratar com as transgressões
deles.
O que deveriam esperar como resultado dessa confrontação? Aqui está o
Deus o qual disse aos nossos primeiros pais que, no dia em que pecassem, eles
morreriam. Adão e Eva caíram no pecado.
Em uma situação como essa, poderíamos esperar a execução imediata da
sentença. Se Deus os mandasse para a morte naquele momento, tanto física como
espiritual, afastando-os de Sua presença para sempre, teria sido justo.
Entretanto, não foi o que aconteceu.
Em vez disso, Deus primeiro
repreendeu o pecado e, em seguida, realizou um sacrifício. Como resultado, Adão
e Eva foram vestidos com peles de animais sacrificados (mortos). Foi a primeira
morte executada por Deus e testemunhada por alguém.
Quando Adão e Eva viram aquilo, devem ter ficado horrorizados. No
entanto, mesmo quando eles se assustaram com o sacrifício, devem ter ficado
maravilhados, o que o Altíssimo estava mostrando era que, embora eles
merecessem morrer, era possível que alguém, no caso dos animais, morresse no
lugar deles. Os animais pagaram o preço de seus pecados, e eles foram vestidos
com as peles desses animais como uma lembrança daquele fato.
Esse é o significado da substituição: a morte de alguém em benefício de
outro. Contudo, devemos dizer também, como a Bíblia ensina que a morte de
animais nunca poderia livrar a penalidade do pecado (Hb 10:4). Aquele
acontecimento no Édem foi apenas um símbolo de como o pecador seria
definitivamente renovado. Na verdade, o sacrifício eficaz foi realizado por
Jesus Cristo, e nós rememoramos esse acontecimento na Santa Ceia.
Nós também recordamos de alguma coisa que Jesus sugeriu quando falou do
vinho “como o sangue no Novo Testamento” (Mc 14:24) “e do Novo Testamento no
meu sangue [de Jesus] (1Coríntios 11:25) e olhando para aquela vitória, sobre a
qual Deus estabeleceu uma nova aliança de salvação com o Seu povo redimido.
Uma aliança [ou testamento] é uma promessa confirmada por um juramento
ou por uma assinatura. Logo, quando Jesus falou da taça (cálice) como
celebração de uma nova aliança, ele apontava para as promessas de salvação que
Deus fez à nós sobre o fundamento da morte do Seu Cordeiro. Essa salvação chega
à nós somente pela graça.
A Ceia do Senhor tem um significado presente. Em primeiro lugar, o
sacramento é uma cerimônia na qual tomamos parte repetidamente, sempre nos
lembrando da morte do Senhor até que Ele volte. Em seguida, é uma ocasião para
examinarmos nossa vida sob a luz de nossa fé na morte de Cristo. Paulo
recomendou:
“Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma desse pão, e beba
desse cálice. Porque o que come e bebe indignamente come e bebe a sua própria
condenação, não discernindo o corpo do Senhor”. (1 Coríntios 11:28-29).
No âmago do significado presente da Santa Ceia, está a nossa comunhão
com Cristo, por isso o termo culto de comunhão. Quando se propões a
participar desse culto, o cristão o faz para encontrar-se com Cristo e ter
comunhão com Ele, a Seu convite. O exame acontece porque é hipocrisia fingir
que está em comunhão com o Santo, enquanto, na verdade, alimentam-se pecados
conscientes no coração.
Amaneira pela qual está presente na comunhão é uma questão que tem
dividido a Igreja cristã. Há três teorias acerca disso.
Primeira, Jesus não está presente de verdade – pelo menos, não mais do
que Ele está presente todo o tempo em tudo –. Para os que sustentam essa visão,
a Ceia do Senhor tem apenas um caráter memorial; é apenas uma lembrança da
morte de Cristo.
Segunda, é a visão da Igreja Católica. Nela, o corpo e o sangue de Jesus
estariam literalmente presentes sob a aparência de pão e de vinho. Antes da
missa, os elementos seriam (no entendimento da Igreja Católica) simplesmente
pão e vinho, mas durante a cerimônia pela consagração, eles seriam
transformados. Embora os fiéis percebam o pão e o vinho, eles, na verdade,
mastigariam e beberiam o corpo e o sangue de Jesus. Esse “milagre” (ditado só
pela Igreja católica) foi chamado de transubstanciação. A terceira é a visão de
João Calvino e outros reformadores, segundo o qual Cristo está presente no
culto de comunhão, mas apenas espiritualmente, e não fisicamente. Calvino
chamou isso de a presença real, para indicar que uma presença espiritual e, sob
todos os aspectos, é tão real quanto uma física.
O que pensar dessas três teorias? De início, devemos dizer que não pode
haver querelas com a teoria memorial, uma vez que é verdadeira até onde termia.
A única questão é se há mais do uma simples lembrança no sacramento da ceia.
A divisão verdadeira está entre a visão da maioria dos reformadores e a
doutrina católica. Aqueles que acreditam em uma presença física e literal (e
Lutero era um, ainda que não aceitasse a teoria da transubstanciação),
argumentam a partir de uma interpretação literária das palavras de Jesus:
“Tomai e comei, isto é o meu corpo”. (Mc 14:22b).
O fato de Jesus está usando linguagem figurativa [na Ceia], e não
realizando um milagre de transubstanciação, deveria estar evidente porque o Seu
corpo estava ali, presente, com Seus discípulos quando Ele falou aquelas
palavras. Hoje, Seu corpo ressuscitado está no céu.
Uma razão para enxergar a presença de Cristo no sacramento como
espiritual é que esse é o sentido que todas as promessas da presença dele
conosco devem assumir neste tempo da Igreja.
Bannerman escreveu sobre isso:
“Promessas desse quilate – Eu estou convosco todos os dias até a
consumação do século; onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, lá eu
estarei; Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a
porta; entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” – em outras como
essas dão-nos muita base para afirmar que Cristo, mediante Seu Espírito, está
presente em suas ordenanças para a fé do crente, ministrando a bênção
espiritual e graça. Mas não há nada que levaria a estabelecer uma diferença ou
distinção entre a presença de Cristo na Ceia e a presença dele em Suas
ordenanças, a não ser como a maneira dessa presença é considerada. A eficácia
da presença do Salvador pode ser diferente na maneira de transmitir mais ou
menos a graça salvadora, de acordo com a natureza da ordenança, e o nível de fé
do cristão. Porém, o modo como tal presença é comunicada é sempre o mesmo,
acontecendo por meio do Espírito Santo, para edificação da fé do crente”.
(BANNERMAN, Vol. 2, 1960, p. 158-159).
Alguns versículos bem conhecidos de João 6 também falam da fé em Jesus e
de um alimento espiritual nele, embora não tratem literalmente da Ceia do
Senhor, já que o sacramento não havia sido ainda instituído.
“Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não
comerdes da carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis
vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último Dia. Porque a minha carne é
verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida”. (João 6:
53-55).
Se queremos sinônimos para comer e beber, nós os encontramos em João 6
em conceitos tão diferentes quanto crer (V.29, 35, 47), vir (v. 35), ver (v.
40). Todos indicam uma resposta a Jesus. Os termos comer e beber enfatizam que,
pela fé, esse alimento tem de ser tão real quanto o alimentar literalmente.
O terceiro significado da Santa Ceia é futuro. Paulo disse: “Porque,
todas as vezes que comerdes esse pão e beberdes este cálice, anunciais a morte
do Senhor, até que Ele venha”. (1
Coríntios 11:36).
O Senhor havia sugerido a mesma coisa quando falou aos discípulos que
comiam a última refeição com Ele: “Em verdade, vos digo que não bebereis mais
do fruto da vide, até àquele Dia em que o beber novamente, no Reino de Deus”.
(Mt 14:25).
Falamos da presença real de Jesus no culto como nós a conhecemos
atualmente, desejamos dar uma resposta amorosa a Ele e servir-lhe. No entanto,
admitimos prontamente que, por vezes, isso é difícil para nós e que temos a
sensação de que o Senhor não está presente. Seja por causa do pecado, da fadiga
ou simplesmente falta de fé, Cristo parece estar longe.
Embora continuemos na vida cristã, participando dos cultos, ansiamos por
aquele dia em que o veremos face a face e seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3:2).
O culto de (ou com a) Santa Ceia é uma lembrança deste dia. É o anúncio das
grandes bodas do Cordeiro, o encorajamento para fé e o estímulo para um nível
mais elevado de santidade. Amem? E amem!
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Hoje, ficamos melhores conscientes, após essa publicação, com referência
do que é a Santa Ceia, o que ela representa e como devemos estar cientes de
como dela participar. Com isso vamos, aqui, nos inteirando de verdades dantes
não conhecidas. Que Deus nosso Pai, Jesus Cristo nosso Salvador e o Espírito
Santo, nosso Mestre nas revelações do Pai, possam, na vossa divina Trindade
renovar mais e mais a nossa fé.
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Nosso próximo tema para estudarmos, nº 66 destas publicações, tem como
título:
DONS ESPIRITUAIS.
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