sábado, 27 de agosto de 2016

ESTUDO TEOLÓGICO Nº 65

      Estudo da Fé Cristã Nº 65              
      Teologia ao alcance de todos.
      Autor: James Montgomery Boice.
      Postado por: Erleu Fernandes da Cruz.
      Tema Central: TEMPO E HISTÓRIA
      Capítulo 7 
      SÍMBOLOS E SELOS DA SALVAÇÃO.

      O capítulo anterior mencionou um trecho da Confissão de Westminster, o qual fala sobre a leitura das Escrituras e a sã pregação como parte do culto cristão comum. A Confissão prossegue tratando de outras áreas da adoração, dentre as quais estão “a devida administração e digna recepção dos sacramentos. (cap 21:5b).
      Tem havido muitos debates na Igreja a respeito das ordenanças – a sua quantidade, por exemplo, e de uma forma particular de ministração deles é necessária para existência de uma Igreja verdadeira --. Em grau maior ou menor, entretanto, quase todos os cristãos admitem que há ordenanças instituídas por Jesus, os quais devem ter seu lugar na adoração ou no culto comum do povo de Deus.
      A palavra sacramento [ou ordenança] (assim como a palavra Trindade) não é encontrada na Bíblia. Esse termo ingressou na Teologia por meio da Vulgata Latina, onde é costumeiramente para traduzir o vocábulo grego mysterion. Sacramento identifica aquelas ordenanças (práticas) às quais o Senhor conferiu significância especial.
      Peter Lombard (1100 – 1160) se referiu ao sacramento como “um sinal de coisa sagrada”. (FAURWEATHER,  1956, p. 338).
      João Calvino, em sua obra, As institutas, disse que um sacramento é:
      “Um sinal exterior pelo qual Deus sela em nossas consciências as promessas de Sua boa vontade dirigidas a nós com a finalidade de sustentar a nossa fé; e nós, em retorno, confirmamos a nossa consagração diante do Senhor, dos seus anjos e dos homens”. (CALVINO, 1960, p. 1172).
      QUATRO ELEMENTOS DE UM SACRAMENTO.
      De que maneira a Bíblia apresenta as diferenças entre determinações práticas e os sacramentos da Igreja, tais como as leituras das Escrituras ou as orações, os quais não são sacramentais? O que constitui um sacramento? Entendo que há quatro exemplos:
     1º- Os sacramentos são ordenanças divinas instituídas pelo próprio Jesus. Nesse sentido, eles são similares às outras ordenanças que também fazem parte da devoção da Igreja, como a oração, por exemplo. Jesus nos recomendou orar. Os sacramentos, porem, diferem das coisas que podemos fazer, mas que não são ordenanças.
      Nós cantamos quando estamos reunidos e temos precedentes para isso, inclusive o exemplo de Jesus e Seus discípulos (Mc 14:26). No entanto, cantar hinos de louvor não é especificamente um mandado pelo Senhor e, por isso, entra na categoria daquelas práticas permissíveis e, até mesmo, boas, mas não obrigatórias.
      Os sacramentos ou ordenanças, sim, são obrigatórios: a Ceia do Senhor foi instituída por Jesus na noite em que ele foi traído, e o batismo foi estabelecido pouco antes de Sua subida aos céus.
      2º- Os sacramentos são ordenanças em que elementos materiais são utilizados como símbolos visíveis de bênção de Deus.
      No batismo o símbolo é a água. Na Ceia do Senhor, há dois símbolos: o pão que simboliza o corpo do Senhor Jesus Cristo partido por nós, e o vinho que simboliza Seu sangue derramado.
      Essa característica é importante na compreensão da natureza de um sacramento, pois ela separa o batismo e a Santa Ceia das outras práticas, as quais são boas, mas são (apenas) sacramentais, uma vez que não utilizam elemento material como símbolo.
      O elemento material diferencia o sacramento da realidade que ele representa. Um símbolo é um objeto visível que aponta para uma realidade diferente (espiritual) e mais significante do que ele próprio.
      Uma placa onde está escrito Nova Yorque aponta para Nova Yorque. Um cartaz onde se lê: Beba Coca-Cola atrai a nossa atenção para essa bebida. De forma análoga, o sacramento do batismo aponta para a nossa identificação com Cristo em Sua morte. A Ceia do Senhor remete para a realidade de nossa comunhão com Ele. No caso dos sacramentos, o símbolo é secundário, exterior e visível. A realidade é primária, interior e invisível.
      É bom ressaltar, no entanto, que nem o batismo nem a Ceia do Senhor faz de alguém um cristão ou mantém alguém como tal. Na realidade, não nos tornamos cristãos sendo batizados, nem permanecemos cristãos participando da comunhão periodicamente. Esses símbolos simplesmente indicam alguma coisa que aconteceu ou está acontecendo interna e invisivelmente.
      Um símbolo indica propriedade, e os sacramentos ou ordenanças fazem isso também, particularmente o batismo. Este mostra ao mundo e a nós mesmos que não temos mais a nossa posse, mas, fomos comprados por um preço e, agora, pertencemos a Jesus.
      Essa verdade foi um grande estímulo para Martinho Lutero, que passou por muitas tentações sem dúvida, por causa do estresse de estar na liderança de Roma durante 28 anos. Nesses períodos de crises, ele chegou a questionar a própria Reforma, questionou sua fé e, até mesmo, o valor da obra do Senhor Jesus a seu favor.
      Conta-se que nesses dias maus, Lutero tinha escrito em giz sobre a sua mesa: “Baptizatus sum! (Eu fui batizado!). Isso lhe dava confiança no fato de que ele realmente era de Cristo e tinha-se identificado com Ele em Sua morte e ressurreição.
      3º- Os sacramentos ou ordenanças são veículos de graça para alguém que os compartilha com retidão.
      Ao afirmar isso, precisamos ser cuidadosos para assinalar que não estamos atribuindo algum poder mágico ao batismo ou à cerimônia da Santa Ceia, como se a graça – a exemplo da medicina – fosse automaticamente dispensada junto com os elementos materiais. Esse equívoco, o qual diz respeito tanto ao sacramento quanto à graça, levou ao abuso do sacramento pele Igreja Católica e chegou a alcançar alguns grupos emergentes da Reforma. Nesses casos, o sacramento tomou o lugar da fé como meio da salvação.
      Dizer que os sacramentos não são mágicos ou mecânicos, entretanto, não quer dizer que não tenham nenhum valor. Deus escolheu usá-los para encorajar e fortalecer a fé dos crentes. Assim sendo, os sacramentos não só pressupõem o reconhecimento da graça do Senhor por alguém que compartilha deles, mas também fortalecem a fé ao lembrarem ao cristão o que significam e a finalidade de quem os instituiu.
      John Murray escreveu sobre isso:
      “Batismo é um veículo de graça e “transfere” bênção, porque é uma autenticação da graça de Deus para nós. Ao aceitarmos essa autenticação, descansamos na fidelidade de Deus, damos testemunho da sua graça e, com isso, fortalecemos a nossa fé [...]. Na Ceia do Senhor, esse significado é aumentado e cultivado, muito especialmente, na comunhão com Cristo e na participação da virtude que procede de Seu corpo e sangue. A Ceia do Senhor representa esse mistério sendo continuamente elaborado. Nós participamos do corpo e sangue de Cristo por meio dessa ordenança. Dessa forma, enxergamos que a ênfase recai sobre a fidelidade de Deus, e a eficácia reside na resposta que damos a essa fidelidade”. (MURRAY, 1972, p. 367-368).
      4º- Os sacramentos são selos, autenticações ou confirmações da graça que eles significam.
      Em nossos dias o uso do selo é cada vez menos freqüente, mas os exemplos que temos mantém essa ideia.
      O selo dos Estados Unidos da América aparece em um passaporte. Ele é estampado no papel de forma que o documento não pode ser falsificado, validando o passaporte e mostrando que seu possuidor é um cidadão dos Estados Unidos.
      Outros documentos são autenticados por um tabelião público, cujo selo é a confirmação do juramento feito.
      Esses sacramentos [a Ceia e o batismo] são selos de Deus sobre o atestado de que somos Seus Filhos e estamos em comunhão com Ele.
      BATISMO.
      O primeiro dos dois sacramentos [ou ordenação] instituídos por Jesus é o batismo.
      “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que estou convosco todos, até a consumação dos séculos. Amem”. (Mateus 28:18-20).
      Está claro, por esses versículos, que o batismo é um “sacramento iniciatório”, pertencente à tarefa de fazer discípulos. O texto bíblico fala da autoridade ou do senhorio de Cristo e da pessoa batizada como alguém que reconhece Jesus e os seus poderes.
      Algumas dificuldades aparecem no trato desse tema, como demonstra a controvérsia que o cerca. Um bom início para nossos propósitos atuais pode ser o reconhecimento de que há duas palavras intimamente relacionadas a batismo no Novo Testamento, as quais não tem necessariamente o mesmo significado. A primeira, bapto, significa mergulhar e imergir. A segunda, baptizo, pode até significar imergir, mas elas aparecem com vários outros sentidos que levam a um entendimento adequado do que as passagens que trazem essa palavra querem expressar.
      Na Bíblia, baptizo tem sido geralmente transliterada para apresentar o termo batismo. Quando uma palavra é traduzida, com freqüência, pode indicar uma multiplicidade de significados. Assim, se o termo baptizo tivesse uma tradução fácil, uma palavra óbvia teria sido usada pata traduzi-la. Se baptizo  significasse apenas imergir, então imergir seria o vocábulo. Falaríamos de “João o Imersor” ou recitaríamos: “Ide, e fazei discípulos de todas as nações, “imergindo-os” em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. No entanto esse não é o caso. Devemos, portanto, ir além do significado literal da palavra batismo, como imersão, para alcançarmos um sentido metafórico mais importante do termo.
      Sobre isso obtemos ajuda da literatura grega clássica. Os gregos usaram a palavra baptizo desde o ano 400 a.C. até o segundo século depois de Cristo. Em seus escritos, esse termo sempre apontava para uma mudança ou como podemos apropriadamente dizer, uma mudança de identidade por alguns meios.
      Dessa forma, para dar alguns exemplos, ela pode referir-se a uma mudança ocorrida pela imersão de um objeto em um líquido, como no caso da roupa tingida; pois se beber muito vinho e ficar bêbado, ou por um excesso de esforço ou outras causas.
      De todos os textos que podem ser citados da antiguidade, o que dá mais clareza sobre esse tema é um do médico e poeta grego Nicander, o qual viveu em torno de 200 a.C. Em uma receita para fazer conserva, ele usou ambas as palavras, Nicander disse que o vegetal deveria primeiro, ser mergulhado (bapto) em água fervente e, só então, batizado (baptizo) na solução de vinagre. Ambos tinha a ver com imergir o vegetal na solução. Mas o primeiro ato era temporário, enquanto o outro, a operação de batizar o vegetal, produzia uma mudança permanente. Poderíamos dizer que o batismo tinha identificado o vegetal com a salmoura.
      Por esse sentido a palavra está clara em muitos textos, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Por isso, em Isaías 21:4, em uma tradução literal da Septuaginta, lemos: “O meu coração me turba, a desordem me batiza”.  O escritor foi mudado em um estado de confiança tranqüila em Deus para um estado de temor ao experimentar grandes perversidades e saber que terríveis juízos se seguiriam.
      Semelhantemente, Gálatas 3:27 diz: “Porque todos os que fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” – os cristãos na Galácia haviam sido identificados com Jesus.
      O fato de a palavra baptizo poder ser usada metaforicamente não significa que ela deve ser utilizada dessa maneira em passagens bíblicas que tratem do sacramento do batismo. Isso quer dizer, que na realidade, tais passagens requerem, acima de tudo, um significado metafórico, porque somente um entendimento do batismo como identificação com Cristo dá sentido a elas.
      Um exemplo desse texto é o em Marcos 16:16: “Quem crer e for batizado (baptizo) será salvo”. As pessoas tem lido esse trecho e tirado a falsa conclusão de que, a não ser que uma pessoa seja batizada (ou imersa) na água, ela poderá ser salva. Deveríamos saber que tal conclusão é equivocada por causa do ensinamento do restante das Escrituras sobre a maneira como alguém é salvo; exclusivamente pela graça mediante a fé em Cristo. Se batismo fosse exigência para a salvação, então o malfeitor crucificado ao lado de Jesus estaria em apuros.
      Somente quando abandonamos a ideia de que o versículo 16 de Marcos 16 refere-se à imersão na água e passamos a identificação do crente com Cristo, a declaração de Jesus sobre o batismo torna-se clara. Reconhecemos, então, que o Filho de Deus estava convidando os homens para uma crença racional nele, seguida de um compromisso pessoal: “Quem crer em mim e está identificado comigo será salvo”.
      Então, Marcos 16:16 está em paralelo teológico com João 1:12:
      “Mas todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem em seu nome”.
      Também em apocalipse 3:20:
      “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo”.
      Todos os três textos (Mac 16:16; Jo 1:12; AP 3:20) ensinam que deve haver por parte do indivíduo que crê uma identificação com Jesus.
      Outra passagem bíblica iluminada pelo significado metafórico da palavra baptizo é: 1 Coríntios 10:1-2:
      “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar, e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar”.
      Esse trecho da carta de Paulo é especialmente relevante para o entendimento do batismo, uma vez que Israel não esteve submerso nem no mar nem na nuvem. A  nuvem estava atrás deles, separando-os dos egípcios perseguidores. Os egípcios, sim, é que foram submersos no mar e se afogaram. O sentido nesse texto é uma mudança de identidade. Antes de cruzarem o mar Vermelho, os hebreus estavam em rebelião com Moisés [e Deus a quem ele representava]. A atitude original deles mudou para uma atitude de obediência e júbilo depois da travessia do mar.
      BATIZADOS EM CRISTO.
      O estudo da palavra batismo aponta para o significado primário de batismo como um símbolo de nossa união com Cristo, por meio da obra do Espírito Santo. Dessa forma, encontramos muita referência de ser batizado como o ou pelo Espírito Santo, ou ser batizado em Jesus ou em nome de Jesus.
      Em que aspectos somos identificados com Cristo no batismo? Em todos eles – em Seu nascimento, Sua morte, Sua ressurreição –, mas, primordialmente, em Sua morte e ressurreição.
      Paulo falou sobre nossa identificação com Cristo em Sua morte quando escreveu:
      “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em (em vida nova) novidade de vida.”. (Romanos 6:3-4).
      Somos batizados na morte de Cristo de dois modos.  
      Primeiro, quando Jesus morreu na cruz nos enxergou como tendo morrido com Ele no que diz respeito ao nosso pecado. O Pai levou o Filho à morte e, uma vez que todos os que crêem estavam unidos a Ele pelo Espírito Santo, desde antes da fundação mundo, eles também foram levados à morte. O pecado deles foi castigado, e podem agora entrar na presença de Deus como seu povo justificado (perdoados e livres).
      Segundo, há um prisma no qual a nossa união com Cristo em Sua morte refere-se a nossa vida aqui e agora. Paulo declarou que os cristãos devem considerar-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus por intermédio de Jesus (Rm 6:11). Por meio da nossa identificação com Cristo em Sua morte, o poder do pecado sobre nós é destruído, e ficamos livres para servir a Deus.
      Também estamos identificados com Cristo em Sua ressurreição, conforme declarou Paulo: “Porque fostes plantados juntamente com ele na semelhança de sua morte, também o seremos na da sua ressurreição”. (Rm 6:5). Assim, como no caso de nossa união com Cristo em Sua morte, essa identificação significa duas coisas. (1) nossa ressurreição futura: -- porque, assim como todos morrem em Adão, assim também tosos serão vivificados em Cristo (1 Coríntios 15:22); e (2) novidade de vida agora (o tema principal de Romanos 6).
      Na Carta aos Filipenses, Paulo escreveu a respeito de seu desejo de conhecê-lo [a Jesus], e a virtude de sua ressurreição (Fp 3:10). O apóstolo queria vivenciar o santo poder da ressurreição de Jesus Cristo enquanto se dedicava ao serviço do Mestre.
      O livro de Ezequiel contém uma profecia que se refere no trato de Deus com Israel no fim da história. Seis homens entraram em Jerusalém para pronunciar juízo sobre os habitantes, mas, antes de eles adentrarem a cidade, um homem vestido de fino linho, com um tinteiro de escrivão na sua cinta, aparece para marcar com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as  abominações que se cometem no meio dela [Jerusalém] (Ez 9:4). E aos outros foi dito: “Matai velhos, e jovens; e virgens, e meninos e mulheres, até exterminá-los; mas todo homem que tiver o sinal não vos achegueis (v 6).
      Todos aqueles que crêem no senhor Jesus são identificados pelo Espírito Santo de Deus como de Cristo – cristãos – e estão seguros nessa identidade.
      A Bíblia diz: “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, sendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade”. (2 Timóteo 2:19).
      A CEIA DO SENHOR.
      O segundo dos sacramentos protestantes é a Ceia do Senhor [ou Santa ceia], que Jesus instituiu na noite anterior à sua crucificação. Essa cerimônia está registrada em cada um dos evangelhos sinóticos (Mt 27:17-30; Mc 14:12-26; Lc 22:7-23), mas o relato melhor e mais completo está em 1 Coríntios 11, em uma passagem em que Paulo tentava corrigir alguns abusos envolvendo a Ceia, os quais aconteciam na igreja dos coríntios. A importante passagem nos diz:
      “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graça, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo. Este é o cálice do Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em Memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão e beber este cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice”. (1 Coríntios 11:23-28).
      A Ceia do Senhor possui, assim como o batismo, todos os elementos de um sacramento, porém se distingue do batismo, já que este é um rito iniciatório (o qual testifica a identificação primária com Cristo, sem a qual ninguém pode ser um cristão). A Santa Ceia é um sacramento contínuo, instituído para ser observado repetidas vezes (todas as vezes que o comerdes e beberdes) durante toda caminhada cristã. Essa característica da santa ceia é vista em seu significado passado, presente e futuro.
      O significado Memorial da Ceia do Senhor fica claro pelo termo em memória. A última Ceia do Senhor com os seus discípulos remete à Sua Morte. Recomendamos, em primeiro lugar, a Sua expiação substitutiva: o pão repartido representa (não é) o corpo do Senhor partido por nós, e o vinho, Seu sangue derramado em nosso favor.
      A expiação tem a vez o requisito de nossa reconciliação com Deus, e o termo substitutiva indica que tal reconciliação foi obtida pela morte de outra pessoa em nosso lugar.
      Por que Jesus morreu? A Bíblia ensina que todos os que nasceram são pecadores, por terem desobedecido à Lei de Deus.
      “Como está escrito. Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há um só”. (Romanos 3:10-12)
      Ela afirma também “ que a alma que pecar essa morrerá” (Ez 18:4) “e o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).
      Essa morte substitutiva não é simplesmente uma morte física, mas também espiritual.
      Morte é separação. A morte física significa que a alma e o espírito estão separados do corpo, e a espiritual, que a alma e o espírito estão separados de Deus. Merecemos tal separação como conseqüência do nosso pecado, mas Jesus se tornou nosso substituto ao entregar-se à morte física e espiritual em nosso lugar.

      Uma ilustração desse princípio é encontrada nos primeiros capítulos de Gênesis. Adão e Eva pecaram e experimentaram o terror depois disso, mas Deus lhes havia advertido:
      “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De todas as árvores do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. (Gênesis 2:16-17).
      A esta altura, Adão e Eva, provavelmente, não tinham uma ideia muito clara do que fosse a morte, mas sabiam que era algo muito sério. Por isso, quando pecaram pela desobediência e ouviram Deus aproximando-se deles no Jardim, tentaram esconder-se.
      No entanto, ninguém pode esconder-se de Deus. O Senhor os encontrou, mandou que saíssem do esconderijo e começou a tratar com as transgressões deles.
      O que deveriam esperar como resultado dessa confrontação? Aqui está o Deus o qual disse aos nossos primeiros pais que, no dia em que pecassem, eles morreriam. Adão e Eva caíram no pecado.
      Em uma situação como essa, poderíamos esperar a execução imediata da sentença. Se Deus os mandasse para a morte naquele momento, tanto física como espiritual, afastando-os de Sua presença para sempre, teria sido justo. Entretanto, não foi o que aconteceu.
      Em vez disso, Deus primeiro repreendeu o pecado e, em seguida, realizou um sacrifício. Como resultado, Adão e Eva foram vestidos com peles de animais sacrificados (mortos). Foi a primeira morte executada por Deus e testemunhada por alguém.
      Quando Adão e Eva viram aquilo, devem ter ficado horrorizados. No entanto, mesmo quando eles se assustaram com o sacrifício, devem ter ficado maravilhados, o que o Altíssimo estava mostrando era que, embora eles merecessem morrer, era possível que alguém, no caso dos animais, morresse no lugar deles. Os animais pagaram o preço de seus pecados, e eles foram vestidos com as peles desses animais como uma lembrança daquele fato.
      Esse é o significado da substituição: a morte de alguém em benefício de outro. Contudo, devemos dizer também, como a Bíblia ensina que a morte de animais nunca poderia livrar a penalidade do pecado (Hb 10:4). Aquele acontecimento no Édem foi apenas um símbolo de como o pecador seria definitivamente renovado. Na verdade, o sacrifício eficaz foi realizado por Jesus Cristo, e nós rememoramos esse acontecimento na Santa Ceia.
      Nós também recordamos de alguma coisa que Jesus sugeriu quando falou do vinho “como o sangue no Novo Testamento” (Mc 14:24) “e do Novo Testamento no meu sangue [de Jesus] (1Coríntios 11:25) e olhando para aquela vitória, sobre a qual Deus estabeleceu uma nova aliança de salvação com o Seu povo redimido.
      Uma aliança [ou testamento] é uma promessa confirmada por um juramento ou por uma assinatura. Logo, quando Jesus falou da taça (cálice) como celebração de uma nova aliança, ele apontava para as promessas de salvação que Deus fez à nós sobre o fundamento da morte do Seu Cordeiro. Essa salvação chega à nós somente pela graça.
      A Ceia do Senhor tem um significado presente. Em primeiro lugar, o sacramento é uma cerimônia na qual tomamos parte repetidamente, sempre nos lembrando da morte do Senhor até que Ele volte. Em seguida, é uma ocasião para examinarmos nossa vida sob a luz de nossa fé na morte de Cristo. Paulo recomendou:
      “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma desse pão, e beba desse cálice. Porque o que come e bebe indignamente come e bebe a sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor”. (1 Coríntios 11:28-29).
      No âmago do significado presente da Santa Ceia, está a nossa comunhão com Cristo, por isso o termo culto de comunhão. Quando se propões a participar desse culto, o cristão o faz para encontrar-se com Cristo e ter comunhão com Ele, a Seu convite. O exame acontece porque é hipocrisia fingir que está em comunhão com o Santo, enquanto, na verdade, alimentam-se pecados conscientes no coração.
      Amaneira pela qual está presente na comunhão é uma questão que tem dividido a Igreja cristã. Há três teorias acerca disso.
      Primeira, Jesus não está presente de verdade – pelo menos, não mais do que Ele está presente todo o tempo em tudo –. Para os que sustentam essa visão, a Ceia do Senhor tem apenas um caráter memorial; é apenas uma lembrança da morte de Cristo.
      Segunda, é a visão da Igreja Católica. Nela, o corpo e o sangue de Jesus estariam literalmente presentes sob a aparência de pão e de vinho. Antes da missa, os elementos seriam (no entendimento da Igreja Católica) simplesmente pão e vinho, mas durante a cerimônia pela consagração, eles seriam transformados. Embora os fiéis percebam o pão e o vinho, eles, na verdade, mastigariam e beberiam o corpo e o sangue de Jesus. Esse “milagre” (ditado só pela Igreja católica) foi chamado de transubstanciação. A terceira é a visão de João Calvino e outros reformadores, segundo o qual Cristo está presente no culto de comunhão, mas apenas espiritualmente, e não fisicamente. Calvino chamou isso de a presença real, para indicar que uma presença espiritual e, sob todos os aspectos, é tão real quanto uma física.
      O que pensar dessas três teorias? De início, devemos dizer que não pode haver querelas com a teoria memorial, uma vez que é verdadeira até onde termia. A única questão é se há mais do uma simples lembrança no sacramento da ceia.
      A divisão verdadeira está entre a visão da maioria dos reformadores e a doutrina católica. Aqueles que acreditam em uma presença física e literal (e Lutero era um, ainda que não aceitasse a teoria da transubstanciação), argumentam a partir de uma interpretação literária das palavras de Jesus: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. (Mc 14:22b).
      O fato de Jesus está usando linguagem figurativa [na Ceia], e não realizando um milagre de transubstanciação, deveria estar evidente porque o Seu corpo estava ali, presente, com Seus discípulos quando Ele falou aquelas palavras. Hoje, Seu corpo ressuscitado está no céu.
      Uma razão para enxergar a presença de Cristo no sacramento como espiritual é que esse é o sentido que todas as promessas da presença dele conosco devem assumir neste tempo da Igreja.
      Bannerman escreveu sobre isso:
      “Promessas desse quilate – Eu estou convosco todos os dias até a consumação do século; onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, lá eu estarei; Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta; entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” – em outras como essas dão-nos muita base para afirmar que Cristo, mediante Seu Espírito, está presente em suas ordenanças para a fé do crente, ministrando a bênção espiritual e graça. Mas não há nada que levaria a estabelecer uma diferença ou distinção entre a presença de Cristo na Ceia e a presença dele em Suas ordenanças, a não ser como a maneira dessa presença é considerada. A eficácia da presença do Salvador pode ser diferente na maneira de transmitir mais ou menos a graça salvadora, de acordo com a natureza da ordenança, e o nível de fé do cristão. Porém, o modo como tal presença é comunicada é sempre o mesmo, acontecendo por meio do Espírito Santo, para edificação da fé do crente”. (BANNERMAN, Vol. 2, 1960, p. 158-159).
      Alguns versículos bem conhecidos de João 6 também falam da fé em Jesus e de um alimento espiritual nele, embora não tratem literalmente da Ceia do Senhor, já que o sacramento não havia sido ainda instituído.
      “Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes da carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último Dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida”. (João 6: 53-55).
      Se queremos sinônimos para comer e beber, nós os encontramos em João 6 em conceitos tão diferentes quanto crer (V.29, 35, 47), vir (v. 35), ver (v. 40). Todos indicam uma resposta a Jesus. Os termos comer e beber enfatizam que, pela fé, esse alimento tem de ser tão real quanto o alimentar literalmente.
      O terceiro significado da Santa Ceia é futuro. Paulo disse: “Porque, todas as vezes que comerdes esse pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha”.  (1 Coríntios  11:36).
      O Senhor havia sugerido a mesma coisa quando falou aos discípulos que comiam a última refeição com Ele: “Em verdade, vos digo que não bebereis mais do fruto da vide, até àquele Dia em que o beber novamente, no Reino de Deus”. (Mt 14:25).
      Falamos da presença real de Jesus no culto como nós a conhecemos atualmente, desejamos dar uma resposta amorosa a Ele e servir-lhe. No entanto, admitimos prontamente que, por vezes, isso é difícil para nós e que temos a sensação de que o Senhor não está presente. Seja por causa do pecado, da fadiga ou simplesmente falta de fé, Cristo parece estar longe.
      Embora continuemos na vida cristã, participando dos cultos, ansiamos por aquele dia em que o veremos face a face e seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3:2). O culto de (ou com a) Santa Ceia é uma lembrança deste dia. É o anúncio das grandes bodas do Cordeiro, o encorajamento para fé e o estímulo para um nível mais elevado de santidade. Amem? E amem!
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      Hoje, ficamos melhores conscientes, após essa publicação, com referência do que é a Santa Ceia, o que ela representa e como devemos estar cientes de como dela participar. Com isso vamos, aqui, nos inteirando de verdades dantes não conhecidas. Que Deus nosso Pai, Jesus Cristo nosso Salvador e o Espírito Santo, nosso Mestre nas revelações do Pai, possam, na vossa divina Trindade renovar mais e mais a nossa fé.
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      Nosso próximo tema para estudarmos, nº 66 destas publicações, tem como título:
                  DONS ESPIRITUAIS.
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