Estudo do Livro Fundamentos da Fé Cristã - Nº 24
Um manual de Teologia ao alcance de todos.
Autor: James Montgomery Boice
CAPÍTULO 15 – A GRANDEZA DO AMOR DE DEUS.
Vários
anos antes de sua morte, o teólogo suíço Karl Barth foi aos Estados Unidos para
ministrar uma série de3 palestras. Numa de suas impressionantes apresentações,
um estudante o surpreendeu com uma pergunta bem complexa: “Dr. Barth, qual o
maior pensamento que já passou pela sua mente”? O idoso professor parou por
alguns instantes enquanto, obviamente pensava numa resposta. Então disse, com
simplicidade: ”Jesus me ama! Isso eu sei, pois a Bíblia diz assim”!
Se
o amor do Pai é o que mais de grandioso no universo, por que deixamos para
discutir esse assunto somente agora? Por que não começamos por ele e, então,
colocamos as outras características divinas em perspectiva? Por que estamos
discutindo isso no segundo livro deste volume, em vez de no primeiro, que trata
mais particularmente dos atributos do Senhor?
A
resposta é que, embora o amor de Deus seja, importante e grandioso, não
conseguimos compreendê-lo e apreciá-lo de verdade em nosso estado decaído, até que conheçamos algumas outras coisas
sobre o Senhor e nós mesmos.
A
seqüência por meio dos quais esses fatos nos são apresentados é fundamental
para a compreensão dos fundamentos da fé cristã: primeiro, a nossa criação à
imagem de Deus; segundo, nosso pecado; terceiro, a revelação da ira divina
contra nós por causa de nosso pecado; e quarto, a redenção.
Se
não tivermos essa seqüência bem estabelecida em nossa mente, seremos incapazes
de apreciar (ou até mesmo admirar) o amor do Pai como deveríamos. Em vez disso,
parece-nos apenas razoável que Ele nos ame. “Afinal de contas, somos tão
adoráveis”, pensamos. No entanto quando nos achamos diante de nossa
transgressão da Justa Lei divina e debaixo da ira do Altíssimo, torna-se
verdadeiramente extraordinário descobrir que, apesar de tudo, Deus nos ama.
Paulo
enfatizou isso em Romanos: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5:8). Tal afirmação
justifica outro motivo pela decidimos não estudar do amor divino em capítulos
anteriores: o amor do Pai só é entendido de maneira plena por meio da Cruz de
Jesus Cristo.
As
manifestações do Senhor na criação e na providência são um pouco ambíguas;
vivenciamos a destruição de terremotos terríveis, mas também nos maravilhamos
com lindos pores do sol; enquanto alguns sofrem doenças incuráveis e cruéis
como o câncer, outros são perfeitamente saudáveis. Apesar da cruz Deus mostra
que Seu amor de maneira completa e sem ambiguidade.
Por
essa razão, é difícil encontrar um versículo no Novo Testamento que mencione o
amor divino sem referir-se também, no mesmo texto ou no contexto imediato ao
presente que Ele nos deu, Seu Filho no Calvário. Vejamos alguns exemplos:
Em
João 3:16 está escrito:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Paulo
declarou em Gálatas:
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, mas não sou eu que vivo mas Cristo
vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o
qual me amou e se entregou por mim”.
Lemos
em 1ª João 4:10:
“Nisso consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele
nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”.
Em
Apocalipse 1:5 é dito que Jesus nos ama e nos libertou dos nossos pecados por
meio do seu sangue.
Essas
citações mantém juntos o amor de Deus e a cruz de Cristo. E mais, elas estão
entre os mais importantes textos acerca de ambos os assuntos.
Apenas
depois de entendermos o significado da cruz podemos apreciar o amor por trás
dele. Percebendo isso, Agostinho uma vez comparou a cruz como um púlpito a
partir do qual Cristo pregava o Seu amor ao mundo.
AMOR,
MOTIVAÇÃO DE DEUS
Devemos
ser cuidadosos quando dizemos que só podemos apreciar o amor divino em sua
plenitude depois de entendermos as doutrinas da criação, do pecado, da ira e da
redenção – ou seja, somente quando compreendermos o significado do sacrifício
de Jesus na cruz.
O
amor de Deus não de origina lá, mas muito antes, sendo portanto, mais
grandiosos que cada um desses assuntos subseqüentes. Se não conseguimos
enxergar isso, corremos o risco de imaginar que o Senhor sempre esteve irado
conosco e, somente depois da morte de
Cristo, Sua ira se transformou em amor. Isso é errado e distorce o significado
da Cruz.
Encontramos
amor do Senhor em tudo: na criação, na morte de Cristo e até mesmo na ira
contra o pecado, embora, isso seja difícil de compreender. Como Ele pode
amar-nos com tanta intensidade e ainda assim está irado conosco?
Agostinho
disse que Deus nos odiava por não sermos o que Ele próprio tinha criado
(SCHAAF, 1887, p.41), embora, apesar disso, amasse o que tinha feito e o que
faria conosco novamente. Fomos reconciliados com o Pai não porque a morte de
Cristo tenha alterado, de alguma forma, a atitude dele para conosco, mas porque
Seu amor levou-o a enviar Cristo, a fim de estabelecer a maneira pela qual o
pecado, que nos separa dele, pudesse ser removido para sempre.
C.S.
Lewis captou essa ideia de forma organizada no final de “Os Quatro Amores”:
“Não
devemos partir do misticismo, do amor da criatura de Deus ou das maravilhosas
antevisões da fruição de Deus concedida a alguns em sua vida na terra. Nós
partimos do verdadeiro ponto de partida – o amor como energia divina. [...] Em
Deus, não há necessidade a ser preenchida, mas somente abundância querendo
doar-se. Deus, que não precisa de nada, faz existir por amor criaturas
inteiramente supérfluas para poder amá-las e aperfeiçoá-las. Ele cria o
universo já prevendo – ou deveríamos dizer “vendo”? Para Deus, não existe o
tempo – as moscas zumbindo ao redor da cruz, as costas esfoladas, sendo
pressionadas contra o mastro, os cravos atravessando os nervos principais, a
contínua sufocação incipiente à medida que o corpo vai desfalecendo, a contínua
tortura das costas e dos braços quando é içado para poder respirar. Se me
permitem uma metáfora biológica, Deus é, um “hospedeiro” que cria
deliberadamente seus próprios parasitas – que nos faz existir para que possamos
explorá-los e “tirar vantagens” dele. (C. S. Dewis, 2005, p. 175-176)”.
A
ira interferiu em nosso relacionamento com Deus, escondendo Seu amor de nós,
mas, quando removida, descobrimos o quanto o Senhor nos ama desde a eternidade,
e somos, portanto, atraídos a Ele.
GRANDE
AMOR.
O
que podemos dizer sobre o amor de Deus pelas Suas criaturas, que o levou não
somente a criá-las e redimi-las, mas também a preservá-las para uma eternidade
de comunhão com Ele? Sem dúvidas, nada do que disséssemos poderia esgotar a
totalidade da dimensão do amor. O amor de Deus é sempre infinitamente mais
profundo do que nossa capacidade de entendê-lo e expressá-lo.
A
Bíblia trata desse assunto de maneira simples. Uma das coisas básicas que
destaca é a intensidade do amor de Deus por nós (Ef 2:4). Em João 3:16, há uma
indicação acerca do grandeza do amor divino, implícita no fragmento de tal
maneira, em porque “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo o que nele crê não, pereça, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3:16). Isso significa que o Pai amou o mundo de forma tão grandiosa que
usamos dizer que algo relativamente normal é grande – um grande concerto, um
grande jantar ou algo parecido. Ele é mestre em atenuações. Então, quando
alguém afirma que Seu amor é grande, quer dizer, de fato, que este amor é
estupendo ao ponto de exceder todo entendimento humano (Ef 3:19).
Alguém
captou essa ideia em um cartão que continha a passagem de João 3:16. O
versículo foi organizado de uma forma que evidenciou a grandeza de cada parte
dele. Ficou assim:
Deus.....................................o
maior amante.
Amou
de tal maneira............o maior grau.
O
mundo...............................a maior companhia.
Que
deu................................O maior ato.
O
seu Filho unigênito............o maior presente.
Para
que todo aquele........a maior oportunidade.
Que
nele crer.....................a maior simplicidade.
Não
pereça.........................a maior promessa.
Mas.....................................a
maior diferença.
Tenha.................................a
maior certeza.
A
vida eterna......................o maior bem.
Para
completar, acima do texto havia o título: “Cristo O Maior Presente”.
Uma
maneira melhor de compreender a dimensão do amor de Deus é constatar que,
diante de sua exclusividade e grandeza, não havia palavra no vocabulário grego
capaz de expressá-lo, o que levou os autores bíblicos, ou, no mínimo, à elevar
a níveis inteiramente novos uma palavra unicamente para isso.
A
língua grega é rica em palavras para amor. A primeira dela é storgê, que se
refere à refeição em geral, principalmente em relação à família. Um equivalente
mais próximo em português seria carinho. Os gregos diziam: “Eu amo (tenho
carinho pelos) meus filhos”.
A
segunda das palavras gregas é phila, de onde observamos a palavra filantropia e
Filadélfia. Ela se refere à amizade. Jesus usou essas palavras quando disse que
qualquer pessoa que amasse mais os pais do que a Ele não seria digna dele (Mt
10:37).
A
terceira é Eros, que nos remete ao sensual, a partir do qual se originou a
palavra erótica. Embora esse tipo de amor seja obordado pelo escritores
bíblicos de maneira positiva, o termos Eros tinha uma conotação degradante na
época em que foi escrito o Novo Testamento, sendo abolido desses descritos de
modo a não aparecer nem uma só vez.
Apesar
de toda essa variedade, os responsáveis pela tradução dos textos bíblicos do
hebraico para o grego não consideravam nenhuma dessas palavras adequadas para transmitir os verdadeiros
conceito acerca do amor de Deus. Usaram, portanto, outro termo, sem fortes
associações, e o fizeram de forma praticamente exclusiva. Por quase não ter
sido usado anteriormente, ele foram capazes de introduzi-lo com uma
característica inteiramente nova, para
que, com o tempo, esse termo passasse a expressar apenas a versão de amor que
desejavam: ágape.
Embora
inicialmente um pouco vaga, essa nova palavra grega conseguiu cumprir o
objetivo de seus criadores. Deus ama de maneira justa e santa? Sim. Esse é o agapê.
O amor do Pai é generoso, soberano e eterno? Sim. Isso também é ágape. Em
Jeremias 31:3 Deus falou: “Com amor eterno te amei; também com amável
benignidade te atraí”. Esse amor é agapê. Assim, agapê se tornou a palavra
suprema para falar sobre o amor do Senhor, inicialmente revelado por Ele pelo
judaísmo e, então, revelado em sua plenitude, em Jesus Cristo, por meio do
cristianismo bíblico.
................................................
NB:
Como este estudo neste capítulo é extenso, continuaremos, com certeza, no
próximo capítulo Nº 25 que terá como título continuado: AMOR INESGOTÁVEL.
Fiquem
com a paz que vem do trono da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus vos
abençoe abundantemente. Amem?
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