sábado, 17 de setembro de 2016

ESTUDO 68

Manual de Teologia ao alcance de todos.
      Autor: James Montgomery Boice.
      Postado por: Erleu Fernandes da Cruz.
      Capítulo 10 –  GESTÃO DA IGREJA.

      Nossa primeira abordagem sobre as atribuições da Igreja mostrou que o primeiro propósito dessa atribuição é servir o povo de Deus. Tudo mais está relacionado com isso. Quando esse fim não é percebido, os problemas aparecem.
      Em seu livro "One People" [um povo], John Stott uma máxima da Igreja Católica que pode ser verdadeira também em muitas igrejas protestantes de hoje. “Os bispos estão a serviço dos padres, os padres estão serviço dos leigos, os leigos são reis com problema de serviço” (STOTT, 1969, p. 43).
      Muitas igrejas têm essa anomalia, seja por não entenderem os princípios bíblicos de liderança e gestão, seja pelo empenho por parte de alguns, principalmente do clero, para evitá-los. É estranho que seja assim, pois o básico para a vida cristã, seja entre líderes ou cristãos comuns, é o serviço. Ser cristão é ministrar, e isso significa servir.
      Um artigo sobre o ministério dos diáconos de George C. Fuller começa com uma ênfase no serviço diaconal ou ministério de serviço de cada crente em Jesus Cristo. Fuller ressalta que o mundo mede a grandeza porquanto uma determinada pessoa é servida. No mundo dos negócios, as pessoas importantes são as que estão no topo da pirâmide organizacional. Quanto maior é a instituição, mais importante é o seu dirigente. Nos assuntos pessoais, os grandes são aqueles que tem empregados, e quanto maior o número de empregados, mais a pessoa é considerada.
      Jesus veio para reverter tudo isso. Ele virou tudo de cabeça para baixo, fazendo do primeiro o último e do último o primeiro. Aos olhos de Deus, grandeza consiste no número de pessoas que nos servem, mas no número de pessoas que servimos. Quanto maior o número, melhor é o cristão. Fuller escreveu:
      “Se Jesus não tivesse tomado a forma de servo, se o Senhor da glória não tivesse se humilhado a si mesmo e se tornado obediente até a morte, e morte de cruz, os padrões do mundo não teriam sido diferente”.
      Todavia, ao ter feito essas coisas, Jesus mudou o padrão. “Agora, Ele é o diácono, nosso exemplo definitivo, e, consumado essa incumbência de Deus, Ele investiu de poder o Seu povo, Seu Corpo sobre a terra, para cumprir seu ministério” (FULLER, 1978, p. 9).
      Na Igreja de Deus todos são diáconos, pastores ou servos em benefício do mundo e da edificação do Corpo de Cristo.
      UM MINISTÉRIO DE SERVIÇO
      Embora o dever de todos os cristãos seja servir ao mundo e uns aos outros, incumbências especiais de serviço são dadas a alguns capacitados para as tarefas. Para ser específico com relação às atribuições destacadas no Novo Testamento, pastores ou bispos devem exercer o serviço ensinando e incentivando os outros a servirem, e os diáconos dever liderar esse ministério.
      É importante começar com o ministério diaconal. A palavra diácono significa servo, e o papel do servo é visto com nitidez nesse edifício. Pelo que podemos perceber no Novo Testamento, ele foi o primeiro ministério instituído pelos apóstolos da Igreja. Os apóstolos haviam sido escolhidos pelo próprio Jesus e estavam presentes desde o início, entretanto o diaconato foi o primeiro ofício instituído. O registro de implantação desse ministério é encontrado em At 6:1-6.
      “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a Palavra de Deus e sirvamos a mesa. Escolhei, pois, irmãos, entre voz sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e sabedoria, aos quais constituamos sobre esse importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E esse parecer contentou toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante aos apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos”.
      Embora sucinto, esse relato da escolha dos primeiros diáconos ensina princípios fundamentais de liderança da igreja e contém dados particulares sobre a natureza do ministério diaconal. Há quatro princípios claros.
      Primeiro, deve haver uma divisão de responsabilidades. É verdade que todo cristão deve servir uns aos outros e ao mundo, no entanto ninguém consegue preencher esse requisito de todas as maneiras.
      Nesse caso, os apóstolos não tinham como conciliar a pesada responsabilidade de oração com a atenção aos necessitados da Igreja. Então alguns homens foram escolhidos pelos membros e entre os membros para essa terceira tarefa, para que os apóstolos dedicassem seu tempo à oração e ao ensino.
      Segundo, deve haver uma pluralidade de liderança. A igreja não nomeou só uma pessoa para essa obra, mas várias. De fato, não há referência em parte alguma do Novo testamento da escalação de apenas um ancião ou um diácono em qualquer obra. Tendemos a apontar um líder; a sabedoria de Deus é maior que a nossa nesse ponto. Ao separar várias pessoas para esse trabalho conjunto, a Igreja, por direção de Deus, proporcionou encorajamento entre aqueles que dividiram a obra, assim como diminuiu a chance de aparecer orgulho e tirania na execução da tarefa.
      Terceiro, há uma preocupação com qualificações espirituais. Os apóstolos não pediram aos cristãos para levarem em conta se tinham ou não riquezas pessoais para contribuir do próprio bolso para o ministério de coleta financeira da Igreja. Ninguém perguntou se os membros escolhidos tinham posses, influência ou poder secular. Esses fatores não foram levados em conta na escolha. O que foi pedido que fizessem foi separar homens de boa reputação e cheios do Espírito Santo e de sabedoria.
      Encontramos essa ênfase em todas as passagens bíblicas que falam de qualificações para o ministério da Igreja. As qualificações para presbíteros estão mencionadas em um Timóteo 3:1-7, Tito 1:5-9) e 1 Pedro 5:1-4). No que concerne aos diáconos, os trechos mais importante é em 1Timóteo 3:8-13:
      “Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância, guardando o mistério da fé em uma pura consciência. E também estes sejam primeiramente provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fieis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma mulher e governem bem seus filhos e suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão  para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.
      Algumas dessas qualificações são a mesma para os bispos ou pastores, mas outras são diferentes. Um bispo ou um pastor, por exemplo, deve ser apto para ensinar (1Tm 3:2; Tt 1:9), o que não dito sobre os diáconos. Por outro lado, não devem ter língua dobre, o que não é mencionado para os bispos e pastores. Uma vez que os diáconos estão envolvidos na vida cotidiana de muitos cristãos, eles devem manter a língua sobre controle até mais do que outros. Do contrário, se multiplicaria as fofocas, os mal-entendidos, os sentimentos de mágoa e ciúme.
      Quarto, os líderes devem ser eleitos pelo povo a que eles servem. Em Atos 6, somos informados como que os cristãos escolheram os primeiros diáconos: sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Os diáconos não foram escolhidos pelos apóstolos.
      Além do mais, o povo acertou na escolha. Repare, os que a reclamação anterior sobre a gestão dos fundos da Igreja veio dos cristãos gregos, os helenistas, e os que foram escolhidos eram aparentemente de origem grega, a julgar pelos seus nomes – uma jogada perspicaz, que sem dúvida acalmou as reclamações e promoveu a unidade.
      UM MINISTÉRIO DE MISERICÓRDIA
      A passagem do livro dos Atos não apenas pelo que ela ensina sobre os princípios sadios de liderança na igreja, em particular quando estes se referem aos diáconos. É importante por conter também ensinamentos sobre a natureza do ministério diaconal.
      No entanto, devemos ser cautelosos nesse ponto. Na medida em que trata de uma passagem histórica, que discute um problema específico da Igreja primitiva, ainda que ela ilustre o que indubitavelmente seja uma função diaconal verdadeira, não tem a intenção de tentar limiar o ministério dos diáconos àquela única responsabilidade.
      Começando com esse trecho emblemático do livro de Atos, entretanto levando em conta a natureza da liderança em si mesma e o significado da palavra diácono, podemos informar que há pelo menos três áreas de responsabilidade nesse ministério, que são responsabilidades da função diaconal.
      A primeira é o que Fuller chama de: “ministério da misericórdia” (FULLER, 1978, p. 10) – o serviço aos necessitados, obviamente aos de dentro da igreja, como as viúvas, porém também aos necessitados de fora, até porque essa é uma responsabilidade de todo cristão. Há um divisão entre as atribuições dos diáconos nesse ponto, se a responsabilidade assistencial dos diáconos é só com os membros de sua própria congregação ou com as outras pessoas também.
      O que mostrar aos que acham que sua responsabilidade é somente em relação aos irmãos na fé? É claro que devemos reconhecer que o conceito que essa visão expressa é válido: cristãos devem cuidar de cristãos. Não fazer nem isso seria desgraça.
      Podemos concordar que se os recursos são limitados, a obra da misericórdia deveria começar com aqueles que fazem parte da família espiritual. . Paulo afirma isso quando instrui os gálatas; “Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé (Gl 6:10).
      Contudo, isso não é tudo o que os diáconos têm de fazer. São eles que devem liderar a igreja em seu ministério para o mundo, assim como para os que pertencem à comunidade cristã. Sem dúvida, devem ser estabelecidas prioridades. Nenhum grupo de cristão pode dar conta de todas as carências que se apresentam.
      Todavia, se os diáconos devem mostrar o caminho no serviço da igreja, eles devem mostrar que a compaixão é estimulada pelas necessidades onde quer que elas apareçam, e não apenas entre o nosso povo.
      Aqui temos o exemplo do Senhor Jesus Cristo, que, embora tenha mostrado uma preocupação especial com Israel, não deixou de realizar ações de misericórdia entre a população de gentios da Galileia (Mt 14:13-21; 15:32-39), entre os gentios de Tiro e Sidom (Mc 7:24-30) e também de Decápolis (Lc 8:26-39).
      Se os diáconos ministrarem apenas aos necessitados da igreja local, já será uma coisa boa e, sem dúvida, estimulará outros membros da igreja a arregaçarem as mangas. No entanto, se entenderem a sua atribuição como algo mais amplo, o ministério poderá ser ainda mais eficaz. Fuller escreve:
      “Um quadro de diáconos funcionando da forma adequada dará atenção solidária à vizinhança na qual ele é chamado por Deus para atuar. Ele desenvolverá também um projeto para capacitar outros membros da igreja para esse ministério. Assim como os apóstolos, que mesmo depois da escolha dos sete continuaram a ministrar sobre os necessitados, nós não devemos declinar desse privilégio dado aos cristãos e que só precisa de um direcionamento. Os problemas de nossa cidade precisam de estudo, reflexão e oração.[...] A desaprovação que muitos tem em relação ao posicionamento e a postura de muitas denominações a respeito de diversos assuntos políticos não deve impedir-me de buscar sabedoria para contribuir de forma positiva para a solução dos problemas do mundo quando está em jogo a sobrevivência de seres humanos. No mínimo, o quadro de diáconos deve ter autoridade para patrocinar um fundo de assistência aos famintos, para não ter de depender das ofertas rotineiras da igreja”. (FULLER, 1978, p. 19).
      Além das finanças, os diáconos devem organizar um ministério de visitação aos presos, serviço de apoio aos idosos ou visitas a hospitais e asilos para pobres ou idosos que nunca recebe visita.
      Outra área de responsabilidade é o evangelismo. Isso é conseqüência natural do “ministério da misericórdia”, naquelas oportunidades de compartilhar o evangelho que surgem nas situações de ajuda material. Vários exemplos bíblicos nos levam a acreditar nisso.
      Filipe, um dos diáconos da lista dos sete, é chamado “o evangelista” (At 21:8). Deus o usou para levar o evangelho aos samaritanos (At 8:6) e, a um etíope ligado à nobreza (At 8:26-40). Filipe tinha um dom para evangelizar transcultural.
      Outro diácono da lista, Estêvão, pregou com grande poder diante do Sinédrio judeu, o mesmo grupo que havia condenado Jesus. Sua pregação foi tão verdadeira que eles o mataram. Estêvão acabou sendo o primeiro mártir da Igreja. Não é pouca honra estar na linha sucessória de tamanho exemplo de unção e heroísmo.
      Terceiro. Os diáconos tem obrigação de treinar outras pessoas. A responsabilidade de um pastor é ensinar, como veremos no próximo tópico; todavia, este não é um chamado de todos os cristãos. Todos são chamados para as ações de misericórdia e evangelismo e os diáconos, nestas áreas, tem obrigação não somente de treinar, mas de liderar toda a família de Deus.
      Isso acontece, por exemplo, quando um diácono leva com ele alguém que não é diácono para uma ação de misericórdia e evangelismo. Contudo, é recomendável que isso se dê por meio de um treinamento formal em classe de adultos ou seminários.
      Diáconos que tem o dom de administração podem organizar a igreja para ações mais abrangentes, tais como evangelizar um bairro , ter voz ativa nas decisões políticas da cidade, prestar serviços nas prisões, nos asilos e hospitais.
      Fuller afirma que onde acontece: (1º) os cristãos ficam entusiasmados como nunca; (2º) eles cumprem corretamente o serviço dado por Cristo; (3º) a hipocrisia é removida das orações intercessoras dos cristãos; e (4º) as pessoas são ajudadas. E, sobretudo, estão demonstrando a realidade da presença de Deus em suas vidas.
      Não devemos esquecer que nas parábolas de nosso Senhor Jesus Cristo sobre as ovelhas e os bodes, contada pouco antes de Sua prisão e crucificação, são assinaladas a presença de serviço genuíno prestado aos necessitados, que marca a presença ou ausência de um relacionamento salvador com Ele (Jesus). O que foi feito aos outros foi enxergado e recompensado como um serviço para o próprio Senhor.
      “Então, dirá o Rei aos que estiverem a sua direita: Vinde benditos de meu Pai, possui por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e deste-me de comer; tive sede, e deste-me de beber; era estrangeiro, e hospedaste-me; estava nu, e vestiste-me; adoeci, e visitaste-me; estive na prisão e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos?  Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermos ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. (Mateus 23:34-40).
      SUPERVISÃO E ENSINO
      Os diáconos, entretanto, não são os únicos separados para servir ao povo de Deus na igreja local. Eles devem liderar no serviço prático e externo. Os bispos e pastores, por sua vez, devem servir pela supervisão da igreja e pelo ministério do ensino. Uma vez que essas pessoas tem a responsabilidade principal da igreja, uma atenção maior deve ser dada às suas qualificações para o ministério.
      Atos 28 é um texto chave. Ele apareceu na metade do relato do último encontro do apóstolo Paulo com os pastores da igreja em Éfeso, com quem havia passado sete anos, antes, em seu ministério. Naquele momento, Paulo estava a caminho de Jerusalém para o que veio a ser sua última estadia na cidade santa, e ele havia chamado os pastores para um último encontro na cidade de Mileto. Ele usou o evento para instruir aqueles homens e para alertá-los sobre as suas responsabilidades, assim como sobre os perigos que viriam. Paulo disse:
      “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”. (Atos 20:28).
      Esse versículo é importante, principalmente por causa de seu delineamento das suas principais áreas de responsabilidade do pastorado; a supervisão ou liderança espiritual e o ensino.
      Supervisão espiritual é um dos significados de episkopos, traduzido como supervisor, que algumas vezes é traduzido como bispos. O termo aparece em um Timóteo 3:1, onde Paulo começa a listar a qualificação para aqueles que serão eleitos para essa função. “Se alguém deseja o episcopado [bispado], excelente obra deseja”. A mesma palavra aparece em Tito 1:7: “porque convém que o bispo seja irrepreensível”.
      Nessas passagens e em outras, a palavra episkopos é usada como um termo descritivo para pastor e, portanto, é para ser considerada como um sinônimo de pastor. Ou seja, bispo não era necessariamente um cargo mais alto da Igreja de Jesus Cristo que teria autoridade sobre o clero local, porém, em vez disso, uma função específica do ofício de pastor, que é a supervisão espiritual.
      A função de supervisão é derivada da própria palavra episkopos. Bispo, por sua vez, é uma simples pronúncia anglicana do termo em grego, contudo a palavra em si significa protetor. Epi, o prefixo, significa sobre. Skopos é protetor. Logo episkopos refere-se a alguém que está exercendo/supervisão sobre outras pessoas. Um pastor tem responsabilidades  de proteção e supervisão. Os pastores devem preocupar-se com o bem-estar dos outros.
      O termo episkopos aparece muitas vezes no contexto da imagem pastoral. A função de um pastor espiritual é compatível à de um pastor de ovelhas.
      Em Atos 20:28 Paulo se refere à igreja como um rebanho e relembra aos pastores de Éfeso que eles tem a responsabilidade de alimentá-los. De forma semelhante, Pedro instruiu aos pastores de uma igreja para a qual ele escreveu:
      “Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; não por torpe ganância mas de ânimo pronto, nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Santo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória”. (1Pedro 5:1-4).
      Os pastores devem levar a sério a admoestação de Pedro, e quando o  fizerem, ela os levará a envolver-se com profundidade na vida daqueles que estão sobre seus cuidados. Eles devem preocupar-se com a saúde espiritual e com o crescimento dessas pessoas. E, às vezes, também devem preocupar-se com a disciplina do rebanho.
      Nas igrejas as quais a função de pastor é levada a sério, o corpo de pastores é escolhido para formar uma corte na igreja.
      No entanto, as dificuldades nas igrejas é que as pessoas que presidem sobre outras muitas vezes acreditam que isso é tudo o que pastores devem fazer.
      Com Lawrence R. Eyres assimila num estudo precioso sobre as responsabilidades dos pastores:
      “Eles esquecem que os pastores, devem também ministrar os santos; eles devem andar, e às vezes, correr para alcançar as ovelhas desgarradas de Cristo; e eles devem ajoelhar diariamente para apresentar seu rebanho diante do trono da graça em oração”! (EYRES, 1975, p. 14).
      A segunda responsabilidade dos pastores é ensinar. A estrutura de Atos 20:28 deixa claro que o ministério de supervisão é para ser exercido principalmente por meio do ensino. Em outras palavras, a direção que foi dada a eles não foi uma forma de autocracia de autoridade absoluta pela qual os pastores se sentam e decidem o que deve ser feito, quem deve fazer, e quem não deve fazer, é uma supervisão na qual a autoridade esta colocada sobre as bases do ensino da Palavra de Deus.
      Isso significa que todos os pastores devem estar preparados para ensinar publicamente a grandes platéias. Todavia, todos os pastores devem conhecer as Escrituras e ter capacidade de trazê-las à luz para atuar sobre qualquer problema encontrado na vida daqueles que estão sobre os seus cuidados.
      Nos dias de Seu ministério terreno, Jesus exerceu Sua autoridade dessa forma. Como o autor escreveu sobre isso:
      “Ele não se limitou a uma sala de aula; ao contrário, ensinava em qualquer lugar onde via pessoas necessitadas – nos campos, nas casas, nas sinagogas, junto a um poço, nos terraços, num barco no meio do lago, no alto de um monte, e até pregado numa cruz entre dois criminosos. Algumas vezes, as pessoas iam a Ele; outras Ele ia até as pessoas. Às vezes, Ele pregava e ensinava, e às vezes fazia perguntas. Gostava muito de contar histórias. Ele transformava as Suas palavras em imagens ao mencionar as aves no céu, a água do poço, o semeador no campo ou a lida do povo. Ele nunca era etereotipado, nem bruto, nem usa palavras frívolas. Ele sempre ia direto as necessidades, envolvendo Seus ouvintes intelectual e emocionalmente, penetrando sempre nos recônditos mais profundos da personalidade deles. Jesus era sem dúvida o grande Mestre (GETZ, 1974, p. 124).
      O modelo de ensino de Jesus pode ser um exemplo para todos os pastores que desejarem cumprir esse importante aspecto de seu chamado.
      QUALIDADES ESPIRITUAIS
      As qualificações para pastores são dadas em dois trechos das cartas pastorais de Paulo. O primeiro é 1 Tm 3:1-7 e contém 14 desses requisitos. O segundo trecho, Tito 1:5-9, inclui a maioria desses e mais seis. Ao todo, são 26 itens. Eles podem ser considerados nas seguintes  categorias:
      1ª – Um pastor deve ser irrepreensível (1 Tm 3:2; Tt 1:6,7). Esse item vem em primeiro lugar em ambas as listas de qualificações de Paulo e com certeza merece permanecer onde está, tendo em vista que sintetiza tudo o que vem depois. Isso tem a ver com a reputação de uma pessoa. Porque os pastores tem o posto de maior responsabilidade na Igreja e representam-na perante o mundo, eles devem ser isentos de reprovações e de culpa, para que a causa de Cristo não seja difamada.
      2ª – O pastor deve ser marido de uma só mulher (um Tm 3:2; Tt 1:6) e ter seus filhos em sujestão (1Tm 3:4; Tt 1:6). Foi necessário estabelecer a primeira dessas qualificações numa cultura em que os homens com freqüência tinha mais de uma esposa ou várias amantes. Contudo, ela está também vinculada a uma educação correta dos filhos.
      Paulo estava afirmando que os pastores devem ser líder íntegros e bons governantes de sua própria casa, caso desejam ser considerados aptos para o ministério e despenseiros da casa de Deus. O apóstolo disse: “porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidados com a casa de Deus”? (1Tm 3:5).
      Em minha opinião, deduz-se dessa segunda citação que os pastores na igreja deveriam ser homens, e não mulheres. Isso não é necessariamente verdadeiro a respeito dos diáconos, embora a qualificação “marido de uma som mulher” seja aplicada também à eles. A frase mostra que Paulo pensava nos diáconos como homens quando ele escreveu esse requisito, entretanto não é a mesma coisa que afirmar que uma mulher não pode ser diaconisa. Febe, mencionada em Romanos 16:1 como diákonov, pode ser exemplo de mulher diaconisa.
      Por outro lado, embora não diga que uma mulher seja uma diaconisa, ele pode declarar que uma mulher não pode exercer a função de pastor. Por exemplo, em 1Tm 2:12, as duas responsabilidades principais de um pastor são mencionadas especificamente: “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de  autoridade sobre o marido”.
      3ª – Um pastor deve ser sóbrio (1Tm 3:2; Tt 1:8, sensível! (1Tm 3:2; Tt 1:8 e honesto (1Tm 3:2). Essas palavras podem ser tomadas como uma expressão se uma atitude madura e equilibrada diante do mundo.
      4ª – Um pastor deve ser hospitaleiro (1Tm 3:2; Tt 1:8). Hospitalidade não costuma ser leva em conta como qualidade para uma liderança da igreja; no entanto, exatamente por essa razão, devemos dar uma atenção especial a ela. A hospitalidade é uma virtude enfatizada por todo o Novo Testamento. “Segui a hospitalidade” Rm 12:3). “Nos vos esqueçais da hospitalidade” (Hb 13:2). “Sendo hospitaleiro uns aos outros, sem murmurações” (1Pe 4:9).
      Devemos observar também a severidade com a qual a falta de hospitalidade é julgada. Diófretes, sobre quem o apóstolo João escreveu, é um exemplo. Foi dito dele “que não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja” (3João 1:10). João considerou as suas obras más e prometeu torná-las públicas quando lá estivesse.
      Hospitalidade não é simplesmente abrir a porta de casa para receber quem precisa. O que importa de verdade é a atitude do coração. Como escrevei Eyres:
      “A pessoa hospitaleira é alguém cujo coração está aberto sem hesitação para o solitário, o rejeitado, o estranho [...] Hospitalidade é uma questão de fé, a fé sem a qual ninguém pode agradar a Deus” (EYRES, 1975, p. 30).
      5ª – Um pastor deve ser apto para ensinar (1Tm 3:2). Essas exigência é feita aos pastores, mas não aos diáconos; ela é indispensável para o ministério pastoral, e foi discutida antes neste capítulo.
      6ª – Um pastor deve ser marcado com as seguintes características: Não dado ao vinho (cervejas, bebidas alcoólicas diversas), não espancador (dos filhos ou da esposa), não cobiçoso de torpe ganância (por dinheiro e bens), mas moderado, não contencioso, não avarento (1Tm 3:3). Não soberbo e nem iracundo (Tt 1:7).
      Esses oito itens estão relacionados e tem a ver com a maneira como uma pessoa se relaciona com as outras. Líderes da igreja não devem ter falha de caráter que possam manchar ou escandalizar seu próximo e causar problema à Igreja. Deve ser dito que essas são as características que corresponde de forma negativa aos traços considerados positivos no item 3.
     Uma afirmação semelhantes do que é exigido nessa área é a lista de Paulo sobre o fruto do Espírito contida em Gálatas 5:22,23: (ARA). “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”.
      7ª – Um pastor não deve ser um neófito (muito novo) (1Tm 3:6). Isso se refere à maturidade espiritual, não à idade. O encarregado de liderar a igreja não dever ser um novato ou novo convertido. Isso para ser óbvio. No entanto, dificilmente uma recomendação dessa lista pode ser mais necessária para a igreja nos dias de hoje. Contudo, parece que estamos no caminho inverso. Em vez de esperarmos os novos convertidos amadurecerem, nossa tendência é mandá-los para a linha de frente, dando a eles responsabilidade, acreditando que isso os fará crescer. Todavia, Paulo disse que isso pode fazer os novatos na fé se ensoberbecerem e caírem nos laços do diabo.
      Os cristãos precisam ser provados para crescer na fé, e isso leva tempo. Gene Getz escreveu a respeito:
      “A preocupação de Paulo é que um novo convertido não tenha tido tempo as atitudes de desenvolver as virtudes de um homem de Deus maduro. Ele pode ter experiências nos negócios, pode ser muito capacitado em alguma profissão. Ou pode ser um músico, artista ou esportista de grande talento. Mas não teve a oportunidade ainda, nem tempo, para cultivar uma boa reputação, de ser testado moral e eticamente”.(GUETZ, 1974, p. 210).
      Não há benefício algum, tanto para o novo cristão como para a Igreja, em colocar um iniciante na fé num lugar de visibilidade como o pastorado.
      8ª – Um pastor deve ter bom testemunho dos que estão de fora (1Tm 3:7). Algumas vezes, os cristãos olham para os chamados ímpios com tanto desprezo que até consideram suas opiniões sem importância. Contudo, os não cristãos, com certeza, são capazes de enxergar quando a conduta está aquém do que ele professa. Uma vez que os pastores representam a igreja diante do mundo, eles devem ser irrepreensíveis. Muitas passagens do Novo Testamento falam dessa meta em relação aos cristãos em geral (1Co 10:31-33; Cl 4:5,6; 1Ts 4:11,12; 1Pe2:12).
      9ª – Um pastor deve ser: amigo do bem, moderado, justo, santo e temperante (Tt 1:8). Cada um desses termos é autoexplicativo, e alguns parecem falar de quase a mesma coisa que nos mostra 1 Timóteo 3:1-7. Dois termos, moderados e temperantes, tem a ver com domínio próprio. Ser justo se refere à justiça nas questões de relacionamentos. Ser santo se refere à consagração e à piedade. Essas virtudes são desenvolvidas num caminhar próximo a Deus.
      10ª – Por fim, “um pastor deve reter firme a fiel palavra que é conforme a doutrina, para que eu seja poderoso, tanto para admoestar com sã doutrina tanto para convencer os contradizentes (Tt 1:9). Capacidade para defender com rapidez a verdade de Deus quando essa estiver sob fogo cruzado é fundamental. Um pastor não deve ser abalado por teorias seculares conflitantes ou por desvios da verdade dentro da igreja. Esses ventos de impiedade sopram em todas as eras e aparecerão com mais freqüência e intensidade à medida que se aproxima a volta de Jesus. Paulo escreveu:
      “Sabe, porém, isto: Que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigo dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”. 2 Tm 3:1-5).
      Paulo alertou Timóteo para que evitasse essas pessoas e para que permanecesse naquilo que aprendeu em Cristo Jesus.
      Quando eu e os pastores da Décima Igreja Presbiteriana na Filadélfia, a minha igreja, encontramo-nos para rever essas qualificações, achamos a lista branda. Todavia, também achamos estimulante. Percebemos que Paulo não forneceu essas qualificações para desencorajar ninguém para o ministério pastoral – ao contrário, ele incentivou os cristãos a desejarem esse ministério (1Timóteo 3:1).
      Afinal, por mais paradoxal que pareça, um bom líder é alguém que é um seguidor, um seguidor de Cristo. Quando veio a esta terra, Jesus disse: “Porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele me enviou” (João 6:38). E Ele disse sobre o Pai: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (João 8:29). Ser um líder é ser um seguidor próximo do Senhor Jesus Cristo, que, por sua vez, segue o Pai.
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      Senhor, vos damos graças por nos ter sustentado até esta data, mantendo nossas vidas em nossos corpos. Muito obrigado, Senhor, por cada ano que contamos em nossa caminhada de vida. Não deixe; vos pedimos, que deixemos esse planeta Terra tão bonito, antes que sejamos dignos e merecedores de estar nos céus junto com os seus escolhidos. Nós vos oramos em nome do Senhor Jesus Cristo. Amém.
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      Completamos, com essa publicação a 68ª postagem desta nossa caminhada estudando sobre a Teologia da Igreja. Nossa próxima publicação será a 69 é:
      A VIDA NO CORPO.

      

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