sábado, 16 de julho de 2016

ESTUDO DA FÉ CRISTÃ Nº 59

      Estudo da Fé Cristã Nº 59              
      Manual de Teologia ao alcance de todos.
      Autor: James Montgomery Boice.
      Postado por: Erleu Fernandes da Cruz.
      Tema Central: TEMPO E HISTÓRIA
      Capítulo  2 = A MARCHA DO TEMPO.

      Durante a Segunda Guerra Mundial, e por alguns anos antes e depois dela, uma série de cine jornais populares era exibida semanalmente na maioria dos cinemas americanos. Produzida pela rede de comunicações Time-Life, era chamada A marcha. Com uma marcha musical ao fundo, a voz de um locutor entusiasmado e assertivo narrava cenas de diversas partes do mundo, impressionando os telespectadores com tudo o que parecia estar acontecendo na época “moderna e acelerada”.
      O título da série dizia tudo. O tempo realmente parecia estar marchando e, talvez, até correndo. Era uma idade de progresso. Então, embora houvesse com freqüência más notícias – sobre reveses militares, por exemplo –, poucos duvidavam que o tempo, por fim, cuidara de arranjar as coisas, e que o progresso era inevitável.
      É impressionante com os tempos mudaram! Hoje, as pessoas não estão tão seguras de que o progresso seria inevitável (embora tudo evidencie um grande avanço). Progresso exige movimentos planejados ou direcionados, e isso requer tanto um Projetista como um projeto. Atualmente, as pessoas não estão tão seguras de que um Projetista ou um projeto existam. A visão otimista e progressiva da história de uma idade clássica deu lugar a uma visão que enxerga a história como apenas uma sucessão de movimentos descontrolados e desconexos, é assustador.
      A história está em marcha realmente? Se ela está, em que ritmo? A única maneira de responder essas perguntas é voltar ao começo e indagar de onde veio  a visão moderna do progresso histórico e sobre que fundamento ela foi construída. Temos de começar com a percepção antiga da história, a qual a visão moderna veio substituir.
      UMA VISÃO CÍCLICA DA HISTÓRIA
      Embora os gregos concentrem a visão antiga da história, é dito, de vez em quando, que eles não estavam interessados na história. Esse não é um comentário que faz justiça a uma civilização que produziu historiadores como Heródoto, o qual foi cronista da ascensão história da Grécia, e como Tucídides, que relatou seu declínio. Porém, há mais de um elemento da verdade naquela avaliação negativa, apesar dessas figuras eminentes.
      O interesse dos gregos na história, tendo sido direcionado apenas para a própria raça e a procedência de seu exclusivo ponto de vista sobre a vida, não foi universal. Enquanto os gregos se consideram gigantes para além do período bárbaro  que os antecedeu, eles não pensavam nisso como um estágio em algum movimento interessante e ascendente da espécie humana. Em vez disso, enxergaram sua época como um pico que, inevitavelmente, daria lugar a períodos mais pobres novamente.
      A visão grega do tempo era cíclica, e isso significa que havia, sem dúvida, mudanças na história, mas que retornava constantemente ao ponto de partida, assim como os planetas ou as estações do ano.
      Nações se elevaram ao poder do passado e, então, experimentaram a queda. Elas se ergueriam novamente, mas os cidadãos daquelas nações não foram a “lugar nenhum” durante seu apogeu, nem outros cidadãos progrediram com seu declínio. O sentido era o ciclo em si mesmo, e a única salvação para uma pessoa capturada em um círculo como esse era tentar escapar dele.
      Desde quando a história foi entendida, os gregos não teriam tido problema em adotar o pregão da roda da fortuna cantado pelo menestrel: “Girando, girando e girando, ela segue, e onde vai parar ninguém percebe”.
      A visão clássica dos gregos envolvia cinco proposições:
      1ª – Não tinham nenhum interesse no passado, no sentido de mudá-lo para conhecer as razões pelas quais as coisas são como são. Pode ser verdade, sustenta R. G. Collingwood, que “Heródoto tenha sido uma exceção nesse ponto, mas a visão dominante era que, se o passado tinha algum interesse, ele era apenas como uma ilustração das características do pensamento e comportamento humanos também visíveis no presente” (COLLINGWOOD, 1976, P. 28-31).
      “A mente grega tendia a estreitar-se e endurecer em sua tendência anti-história. O gênio de Heródoto conseguiu triunfar sobre essa tendência, mas, depois dele, a busca por objetos de conhecimentos eternos e imutáveis ofuscou gradualmente a consciência histórica” (Collingwood,  1976, p. 29).
      2ª – Não possuíam interesse real no futuro.
      3ª – Nada de novo devia ser esperado na história. Epicuro disse: “Nada de novo acontece no universo, se você considerar o tempo passado infinito”. OATES, 1940, p. 50).
      Marcus Aurelius, um filósofo estóico romano, afirmou a mesma coisa:
      “A alma racional [...] atravessa todo o universo, e o vácuo em torno, examina sua forma, expande-se para o campo infinito, e abraça e compreende a renovação periódica de todas as coisas. Ela compreende que aqueles que vem depois de nós não verão nada de novo, nem os que vieram antes de nós viram mais coisas, mas, de certa maneira, aquele que tem 40 anos, se tiver algum entendimento, poderá ver, pela virtude da uniformidade que prevalece, todas as coisas passadas e vindouras” (OATES, 1940, p. 571).
      4ª – A servidão humana ao tempo por meio da existência terrena é uma maldição.
      5ª – Salvação é libertação daquele ciclo eterno e circular e, portanto, do próprio tempo.
      Platão conferiu uma expressão clássica a esse pensamento:
      “A alma é arrastada pelo corpo para a região do mutável, e vaga confusamente, o mundo gira em torno dela, e ela é como um bêbado quando está sob a sua influência [...]. Mas, quando retorna a si mesma, a alma reflete; então, passa para o domínio da pureza, para a região da eternidade, da imortalidade e imutabilidade, que são seus semelhantes. Como eles, vivem para sempre [...] e, estando em comunhão com o imutável, é imutável” (JOWVETT, s.d., p. 217,218).
      Podemos resumir ao dizer que, para os gregos, os acontecimentos históricos eram circulares, e a salvação consistia em ser livre da história mediante o pensamento racional.
      HISTÓRIA COMO PROGRESSO
      Seria difícil mostrar, mesmo em um ensaio muito longo, como e em que ponto de visão clássica da história se transformou na noção moderna do processo histórico. É suficiente afirmar que o cristianismo teve um papel grande e exclusivo nessa transformação.
      O cristianismo trouxe à tona sua doutrina de um Deus o que se revelou na história, que é o ponto do capítulo anterior. O Senhor não era alguém frívolo, meio-humano, meio-divino, como os deuses e as deusas do panteão grego, tampouco o rígido e imutável Primeiro Motor dos filósofos gregos. Esse Deus amou Seu povo, sofreu por ele e moveu céus e terra pela libertação dele.
      Outro ingrediente que o cristianismo revelou foi a visão do ser humano não como uma alma divina aprisionada em um corpo mau e perecível (como acreditavam os gregos), mas como um ser tricotômico com corpo, alma e espírito apenas, criado à imagem de Deus.
      Cada dimensão do ser humano é importante e valiosa, salvação para ser concebida, portanto, não como salvação da alma e do espírito apenas, mas também do corpo, por meio de uma histórica ressurreição final.
      Essas doutrinas foram aos poucos ampliando seu espaço. Durante a Idade Média, o cristianismo sofreu influência do platonismo e do pensamento de Aristóteles para produzir uma doutrina sobre o mundo vindouro, que, com freqüência, obscurecia os proveitos históricos do cristianismo.
      Mas, no final do século 17 e 18                                      – primeiro, por meio do cientificismo de Francis Bacon (1561-1626), e, depois, por meio da filosofia de pensadores como Descartes (1596-1677) e Spinosa (1632-1677) –, o mérito do conhecimento, percebido pelos gregos, e a ideia de um fluxo da história derivada do cristianismo foram unificados em uma crença de progresso científico e social inevitável.
      Essa visão desabrochou no despertar do século 18 e no surgimento da indústria no século 19 – a chamada Revolução Industrial. No final desse período, quando Charles Darwin (1809-1882) introduziu a ideia de uma progressão evolutiva dos seres vivos, o triunfo desse novo paradigma pareceu completo.
      Gordon H. Clark resume a questão ao demonstrar que essa percepção madura e derradeira da história como progresso envolvia três doutrinas básicas:
      1º -- Progresso é um processo natural e deve ter estado sempre em operação.
      2º -- O progresso deve ocorrer em todas as áreas para haver melhora social, moral e filosófica assim como avanço científico.
      3º -- Se o progresso é concebido como uma lei natural, então ele dever ser necessário e inevitável.
      Esses pontos injetaram muito otimismo no século 19 e no princípio do século 20. Passou-se a crer que, embora haja, por vezes, regresso na história devido a erros de avaliação, faz parte da natureza humana desejar progresso, e anseio inato, com qualquer outra lei “natural”, triunfará no final. As causas desse progresso seriam o acúmulo de conhecimento, o planejamento político e social e a evolução biológica  (CLARK; 1967, p. 46-49).
      Entretanto, cada uma dessas três causas é vista cada vez mais nos dias de hoje como inadequada para sustentar esse otimismo. O avanço do conhecimento científico é obviamente inadequado pela razão de que nada na tarefa científica determina como as descobertas da ciência devem ser utilizadas.
      A ciência pode produzir energia atômica, mas ela pode ser utilizada para construir armas nucleares de destruição em massa, assim como para construir usinas que produzam energia pacífica visando ao bem das coletividades – e mesmo essas usinas não são consideradas por todos como algo certo. Pode-se produzir uma variedade infinita de coisas para o mercado consumidor voraz, mas é questionado se essa multiplicação significa progresso ou se é apenas o caso de almas sendo sufocadas pelas suas posses.
      Mas uma vez, acredita-se no planejamento social, porém que esse empenho nos leva? É questionável se o planejamento político social realmente funciona.
      Em nossos dias, os grandes problemas parecem estar além das soluções propostas para lidar com eles – infração, inquietação mundial, crime, violência irracional, para citar apenas alguns. No entanto, mesmo que seja verdade que o planejamento seja eficaz, ainda assim não há garantia de que ele estará a serviço dos verdadeiros “fins progressistas”. Nas mãos de governantes perversos, por exemplo, projetos e planejamentos poderiam ser usados para humilhar e escravizar um povo.
      Finalmente, desde que a teoria da evolução foi implantada, a arrogância daqueles que possuem ser a espécie humana a síntese do progresso biológico parece ridícula em visa da nossa capacidade para eliminar a humanidade da face do planeta.
      Em sua abordagem desses temas, Clark faz outra observação astuta, ao perguntar se uma filosofia do progresso não implica, em última análise, sua própria rejeição. Ele pergunta:
      “Se o progresso é a lei da história, a nossa bagagem moral e intelectual é superior àquela da antiguidade, a nossa sociedade e as nossas ideias vão crescer na direção de alguma coisa melhor e diferente, a nossa imaginação é para ser desenvolvida até um nível hoje inimaginável, todos os velhos conselhos que foram úteis em suas épocas devem ser substituídos por conceitos novos e melhores, não significa que a teoria do progresso deve ser também descartada como uma ideia do século 18 e 19, a qual serviu, sem dúvida para aquela época, mas, para hoje, é antiquada e falsa? Podia ser que a melhor prova contemporânea de progresso seja uma descrença crescente no “progresso”? (CLARK, 1967, p. 53).
      Sem dúvida, o valor desses argumentos varia, mas seu peso acumulado é tão grande que a visão da história como o progresso o século 19 pode ser hoje avaliada como um frangalho. Ela foi despedaçada pelas duas Guerras Mundiais, incontáveis batalhas regionais e suas atrocidades. Qualquer guerra deve ser designada como uma anormalidade, mesmo aquela “para tornar o mundo mais seguro”. Contudo, uma seqüência de guerras e outros horrores exigem uma explicação mais detalhada.
      Temos de afirmar que a visão moderna de progresso histórico está inteiramente equivocada?                                                                   Devemos concluir que a história não tem significado no final de contas? Precisamos voltar ao escapismo histórico dos gregos e outros povos mais antigo?
      Creio que isso não é necessário. Na verdade, é preciso um retorno à visão bíblica da história, na qual Deus, não os seres humanos, está no controle. Sua vontade, em vez da vontade humana ou de alguns princípios históricos abstrato, está sendo feita. Os cristãos expressam confiança nisso e desejam isso quando oram: “Venha o teu Reino. Seja feira a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6:10).
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      Para não cansar a vossa leitura e análise deste capítulo, vamos dividir essa publicação em duas partes. A parte seguinte tem como título:
       UMA VISÃO CRISTÃ DA HISTÓRIA
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      Que tenham um belo sábado e que Deus abençoe vossa semana que começa amanhã. Deus vos abençoe e vos guarde. Amem?

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