sábado, 5 de setembro de 2015

ESTUDO DE TEOLOGIA - Nº 13

Resumo Do Livro Fundamentos da Fé Cristã  Nº 13
     Um manual de Teologia ao alcance de todos.
          James Montgomery Boice – Cap. 07
                        A IRA DE DEUS
Reinhold Niebuhr, em seu livro “A Natureza e o Destino do Homem”, identifica três elementos que influenciam a visão que o ser humano tem de Deus:
[Primeiro] - Há o sentido de reverência pela majestade e de dependência diante da fonte primordial do ser. [Segundo] - O sentido de dever moral que transcende o próprio eu e de insuficiência moral diante de um juiz. [Terceiro] - O anseio por perdão.
Esses três elementos, dispostos especificamente nessa ordem, descrevem como construímos nosso conhecimento a respeito de Deus enquanto Criador, Juiz, e Redentor. Não podemos conhecê-lo de forma adequada antes de conhecermos os nossos deveres para com Ele, enquanto Criador. Também não podemos conhecê-lo como Redentor até que estejamos conscientes, do quanto pecamos contra Ele, estando, por causa disso, debaixo de Seu implacável juízo.
Isso significa, é claro, que devemos estudar a ira divina antes de apreciarmos corretamente as doutrinas da redenção. Contudo, aqui surge o problema. Muitos de nossos contemporâneos, incluindo cristãos, envergonham-se da existência da ira do Senhor, visto que consideram algo essencialmente indigno de um Deus de amor. Por isso, esse não é um tema muito falado, pelo menos em público.
Ouvimos muitos pregadores sobre o amor de Deus. Livros e mais livros nos ensinam como o poder dEle nos ajuda a resistir as tentações, ao desânimo, à tristeza e a muitas outras coisas. Os evangelistas não se cansam de falar sobre a graça de Deus e sobre o Seu plano para nos salvar da condenação eterna. No entanto, ouvimos pouco sobre a ira ou o julgamento divino. O que está errado?
Os escritores da Bíblia, não compartilhavam dessa visão, visto que consideravam a ira do Senhor como uma de Suas perfeições. Isso os levava a levar o evangelho como uma ordem de Deus para o arrependimento (At 17:30).
Será que os cristãos modernos perderam de vista alguma coisa que os autores bíblico sabiam e admiravam? Será que estamos negligenciando uma doutrina sem a qual as outras, inevitavelmente, perdem o sentido? Ou será que esse ponto de vista moderno está mais correto?
Um dos problemas que se apresentam é que, nem sempre, nosso vocabulário atual consegue expressar a verdadeira essência divina. A palavra para ira, por exemplo, significa: raiva, fúria e cólera, e isso (pelo menos no âmbito humano) não é exatamente o que queremos afirmar quando falamos que o Senhor se ira no julgamento do pecado.
Por causa do pecado, o relacionamento entre toda a humanidade e Seu Criador foi quebrado, tornando-nos incapazes de reconhecer nossa culpa, o que, por sua vez, faz com que consideremos injusta a ira de Deus sobre nós.
Porque os cristãos tendem a aceitar essa avaliação contemporânea que nada tem de bíblica? Por certo, a idéia da ira divina nunca foi popular, mas nem assim os profetas, apóstolos, teólogos e  mestres da Antiguidade deixaram de falar sobre ela: “Uma das coisas mais contundentes a respeito da Bíblia é o vigor com que ambos os Testamentos enfatizam a realidade e o terror da ira de Deus” (Packer, 1973).
A maneira de vencer nossa relutância é desejar redescobrir a importância da ira do Senhor por meio de estudo minucioso de todo ensinamento bíblico sobre ela.
A IRA NO ANTIGO TESTAMENTO.
No Antigo Testamento, em meio a muitas referências à cólera humana, mais de 20 palavras foram usadas, em cerca de 600 passagens importantes, a fim de expressar a ira divina.
Além disso, elas não são passagens isoladas, obras de um autor deixado editadas por um relator igualmente desatento. Mil vezes não. Estamos falando de palavras interligadas com os temas mais essenciais do Antigo Testamento: a transmissão da Lei, a vida na Terra, a desobediência de uma parte do povo de Deus, e a escatologia. As mensais mais antigas da ira de Deus estão em conexão com a transmissão da Lei no monte Sinai. Para sermos exatos, as primeiras referências ocorreram apenas dois capítulos depois do relato da entrega dos Dez Mandamentos: “A nenhuma viúva nem órfão afligireis. Se de alguma maneira os afligirdes, e eles clamarem à mim, eu certamente ouvirei o seu clamor e a minha ira se acenderá, e vos matarei a espada; as vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos, órfãos” (Êxodo 22:22-24).
Dez capítulos adiante, numa passagem sobre pecado cometido na construção e adoração do bezerro de ouro, Deus e Moisés discutiram sobre a ira. O Senhor então declarou:
“Agora, pois, deixa-me, que o meu furor se acenda contra ele, e os consuma,; e eu farei de ti uma grande nação. Porém, Moisés suplicou ao Senhor seu Deus, e disse: Ó Senhor, porque se acende o teu furor contra o teu povo, que tu tiraste da terra do Egito com grande força e com forte mão? Porque hão de falar os egípcios, dizendo: Para o mal os tirou, para matá-los nos montes e para destruí-los da face da terra? Torna-te da ira de teu furor e arrepende-te deste mal contra o teu povo” (Êxodo 32:10-12). O apelo ao Senhor foi feito com base na reputação de Seu nome, com alegação de que Seus atos seriam mal interpretados pelos não aliançados com Ele.
A primeira característica bíblica da ira divina é a diferencia imediatamente da ira exercida pelas divindades pagãs: sua consistência. Ela não é arbitrária, como se Deus, por um capricho ou razão mesquinha, decidisse voltar-se contra os que Ele amou e favoreceu em tempos passados.
Ao contrário, diante do pecado e do mal, Deus é consciente e inflexível. Na primeira passagem, Deus vem em defesa do órfão e da viúva. Na segunda, ele age pelos nossos pecados individuais, contra Ele mesmo.
Outro exemplo podem ser dado. No último capítulo do livro de Jó, o Senhor se irou contra os amigos do patriarca por causa de seus conselhos tolos e arrogantes (Jô 42:7).
Em Deuteronômio 29:23-28 foi abordado o tema do derramamento da ira de divina contra Sodoma, Gomorra e outras cidades devido a sua idolatria.
Em Deuteronômio 11:16-17, o pecado foi descrito como servir a outros deuses e adorá-los .
Esdras, por sua vez, escreveu sobre a ira de Deus sobre todos os que o deixam (Ed 8:22).
Nosso pecado não deve anular a presença do Pai em nossa vida. O máximo que podemos fazer é trocar um relacionamento com ele por outro, ou seja, se não experimentarmos Seu amor e Sua graça, vivenciaremos na Sua ira, pois Deus não pode ser tolerante com o mal.
Por isso, encontramos referências freqüentes ao dia da ira de Deus no dia do juízo.
O primeiro capítulo do livro e Naum é um exemplo disso:
“O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança: o Senhor toma vingança e é cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários e guarda a ira contra os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente. [...], quem parará diante de seu furor? E quem subsistirá diante do ardor de sua ira? A sua cólera se derrama como um fogo, e as rochas foram por ele derribadas. O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, conhece os que confiam nele. E com uma inundação transbordante acabará de uma vez com o seu lugar; e as trevas perseguirão os seus inimigos” (Naum 1:2,3,6-8).
Amós direcionou o aviso do Senhor para os religiosos que erroneamente julgaram que o dia da ira divina seria favorável a eles:
“Ai daqueles que desejam o dia do Senhor! Para que quereis vós este dia do Senhor? Trevas será, e não luz. Como que um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso ou como se, entrando em sua casa, a sua mão encontrasse a parede, e fosse mordido por uma cobra. Não será, pois, o dia do Senhor trevas e não luz? Não será, completa escuridão sem nenhum resplendor”? (Amós 5:18-20).
A IRA NO NOVO TESTAMENTO.
As presenças, ainda que menos freqüente, de textos que tratam da ira de Deus no Novo Testamento mostra-nos que esta questão era tão real para Jesus e para os autores neo-testamentários quanto para os autores vetero-testamentários.
O Novo Testamento grego tem apenas duas palavras principais para ira. Uma delas é thymos, de uma raiz (thyo) que significa precipitar-se com ímpetoestar no calor de uma violência ou ofegar-se com fúria. Seu significado único seria arquejar cólera (ira).
Outra palavra é orge, que tem uma origem bem diferente. Sua raiz (órgão) significa tornar-se pronto para alguma coisa; a forma substantiva fala da ira que vai se tomando forma de maneira lenta, durante um longo período.
Leon Morris observou que, fora do livro do Apocalipse, thymos é usada apenas uma vez com a conotação de furor de Deus, e conclui:
“Quando queriam aludir a ira divina, os escritores bíblicos habitualmente usavam uma palavra que se refere a uma súbita chama de paixão que logo se apagará, a uma oposição firme e forte a tudo o que é mau, que brota da própria natureza de Deus” (Morris 1956). No Novo Testamento há um reconhecimento amplo de que nós vivemos num tempo da Graça de Deus.
Contudo, isso não significa que Deus interrompeu o derramar de Sua ira sobre o pecado, ou que ele não a manifestará no Juízo Final. Pelo contrário, a apreensão geral sobre esse dia tem se intensificado cada vez mais.
Jesus falou muitas vezes do inferno, alertando sobre as conseqüências do pecado e mencionando a punição justa e certeira preparada por Deus para as pessoas incrédulas. O autor do livro de Hebreus escreveu:
“Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto castigo cuidais vós será julgado merecedor, aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos de Deus” (Hebreus 10:28-31).
Em Romanos 1:18, Paulo utilizou o tempo verbal no presente. “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que de tem a verdade em justiça”. Se ele tivesse usado no tempo verbal futuro, sua afirmação faria sentido, visto que ele estaria referindo-se ao Juízo final de Deus.
Há, com certeza grande variedade de efeitos do pecado. Esses efeitos, estão na cegueira de entendimento responsável pela rejeição da verdade de Deus (Rm1:21), bem como a degradação da consciência religiosa de uma pessoa e sua correspondente destruição (Rm 1:23) por causa de suas perversões sexuais, das mentiras, da inveja, do ódio, do assassinato, das riquezas, dos enganos, da desobediência aos pais, entre outras coisas. (Romanos 1:24-31).
Podemos afirmar que Deus nos alertou sobre o julgamento que estava por vir. Paulo descreveu esse processo como o testemunha no paganismo e, atualmente, é possível encontrar evidências paralelas a ele, pois, quando desistimos de Deus, Ele nos entrega às concupiscências [...] às paixões infames [..] [e] a um sentimento perverso (Rm 1:24,26,28). Vemos isso na decadência galopante da moral ocidental, na destruição das famílias, na insanidade, e em outras formas de desintegração psicológica, bem como em alguns aspectos supostamente pequenos de nossa vida, como a impaciência, a insônia, a insatisfação e a infelicidade.
A manifestação da natureza divina que os seres humanos atraíram para si e, não menos importante, como alguma coisa sobre a qual nós temos sido alertados com clareza. A ira de Deus não é ignóbil. Ao contrário, ela é nobre, muito justa e perfeita, sendo precisamente por isso, que nos incomoda.
Se, por alguma razão, estivermos em conflito com a lei, temos a oportunidade de apelar, de escapar por uma lacuna legal ou de algum delito menor e ser perdoados por eles. Todavia, com Deus não podemos fazer isso, visto que, em Cristo, não lidamos com as imperfeições da justiça humana, mas com a perfeição da justiça divina.
No que se refere ao sistema judicial divino, lidamos com Aquele para quem não apenas as ações, mas também os pensamentos e intenções são visíveis. Quem pode escapar de tal justiça? Quem pode suster-se diante de um Juiz tão inflexível? Ninguém.
Negando, essas verdades de Deus, nunca enxergaremos nossa carência espiritual e nem seremos capazes de voltar-nos para o Senhor Jesus Cristo a fim de buscarmos a salvação.
Se não voltarmos para o Senhor, nunca o conheceremos de verdade, nem conseguiremos ver-nos como somos. É somente quando nós conhecemos a Deus como o Criador que podemos discerni-lo como Juiz, e, então, quando o conhecemos como tal, podemos discerni-lo como nosso Redentor.
APAZIGUANDO A IRA DE DEUS.
Enquanto o Senhor estava entregando essas palavras, o povo que Ele salvara da escravidão do Egito fazia exatamente o que era proibido. E não apenas isso; os israelitas praticavam adultério, mentira, cobiça, descumpriram todos os outros mandamentos. Nesse ponto, quando Deus declarou a Sua intenção de julgar o povo de forma total e imediata, Moisés intercedeu por Israel.
Por fim, Moisés começou a descer o monte para tratar com o povo. Mesmo em um nível humano e à parte de qualquer idéia da graça de Deus, o pecado deve ser julgado.
Então, Moisés, começou a lidar com isso da melhor maneira que sabia. Primeiro ele repreendeu Arão em público. Depois, convocou todos os que ainda estavam do lado do Senhor para se separarem dos demais e ficaram ao lado dele. A tribo de Levi se apresentou. Ao comando de Moisés seus integrantes foram enviados ao campo aberto executar de forma impiedosa os líderes da rebelião. O capítulo afirma que três mil homens morreram na ocasião, número aproximado de meio por cento dos 600 mil que deixaram o Egito (Ex12:37); 32:28; incluindo mulheres e crianças, o número total naquele êxodo pode ter sido de dois milhões de pessoas). Ao mesmo tempo, Moisés também destruiu o bezerro de ouro. Ele o lançou no chão, misturou o ouro da imagem destruída com água e fez o povo beber.
De um ponto de vista humano, Moisés tratou com o pecado. Os líderes rebeldes foram punidos. Arão foi repreendido. A lealdade do povo foi, pelo menos temporariamente, recuperada. Tudo parecia estar bem.
Para teólogos de gabinete, o conceito da ira de Deus pode parecer apenas especulação. Todavia, Moisés não era o teólogo de gabinete. Ele tinha conversado com deus. Ele tinha ouvido a Sua voz. Naquela altura, nem toda a Lei havia sido dada, entretanto Moisés tinha recebido o suficiente dela para saber alguma coisa do horror do pecado e da natureza incorruptível da justiça de Deus. Deus não havia dito: “Não tereis outros deuses diante de mim” (Ex 20:3)?

Frente ao erro (quase que) imperdoável do povo, Deus quis destruir todos de uma só vez: “Assim tornou Moisés ao Senhor e disse: Ora, este povo pecou pecado grande, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. (Êxodo 32:31-32).
Contudo, depois de ter estado com seu povo e ser reavivado no seu amor por ele, Sua resposta, de novo negativa,  atinge dimensões ainda maiores. Deus disse: “Eu os destruirei e farei uma grande nação de você”. Moisés replicou: “Não. Em vez disse destrói a mim e salve eles”. Vemos aí, como foi grande o amor de Moisés pelo seu povo hebreu. Moisés se ofereceu para salvar a vida do seu povo (o que Jesus fez na cruz).
No entanto, Moisés não podia salvar sequer a si mesmo, pois também era um pecador. Ele tinha cometido assassinato, quebrando assim o sexto mandamento. Não poderia morrer pelo seu povo.
Contudo havia um que poderia. Mas, vindo a plenitude dos tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sobre a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos (aleluia) a adoção de filhos (Gl 4:4,5).
A morte de Jesus não foi apenas para os crentes da época do Antigo Testamento, mas para aqueles que pecaram no deserto e para seus sucessores. Ela foi também por nós que vivemos hoje, tanto judeus como gentios. Sobre o fundamento da morte de Cristo, na qual Ele recebeu sobre Si o derramamento plenamente real da ira de Deus contra o pecado, aqueles, que agora crêem, podem experimentar não mais a ira (ainda que mereçamos enfaticamente), porém a graça abundante.
A graça não ilumina a ira. A ira ainda está reservada para os que não se arrependerem. Todavia, a graça ilumina a necessidade de todos terem de sofrê-la.
...................................................

NB: Absolvemos, com certeza, mais de 70 por cento dos assuntos teológicos, de necessidade para cada um de nós, conhecer sobre a Ira de Deus e sobre a nossa justificação.
....................................................
Próximo assunto: Cap. 8 – SALVAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.

0 comentários:

Postar um comentário