quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

LEMBRANÇAS.

LEMBRANÇAS 

Deixei minha cidadezinha

lá nos confins dos sertões,
por ironia da vida
ou por capricho do destino,
que lá não me quis sozinha.
E vim cantando
e sorrindo
gritando pelos caminhos:
Quero ser poeta,
quero ser poeta,
quero ser poeta.
Os meus pais ficaram lá,
sepultados em seu torrão
como sementes, plantados
nas profundezas do chão.
E vim sozinha, contente,
pulando de canto
em canto,
sacudindo a terra e a poeira
grudadas em meus cabelos.
Minha mãe partiu feliz
numa noite enluarada
Foi para o céu
viver com os anjos,
que era lá o seu lugar.
Minha infância ainda está lá,
embaixo dos cajueiros,
correndo pelos caminhos,
sobrevoando os sertões
banhando-se nos riachos
pairando sobre os coqueiros.
E vim alegre sorrindo,
cantando pelos caminhos:
Quero ser poeta,
quero ser poeta,
quero ser poeta.
Meu pai era cavaleiro
e me ensinou ser amazona
para montar em potro bravo
e laçar touro selvagem.
E vim sorrindo
e cantando,
embrulhando meus sonhos
em meu pensar
Catando os carrapichos do vestido,
avançando terras,
cruzando fronteiras.
Cheguei ao fim da estrada,
ansiosa para amar,
com a mala cheia de risos
e tanto brilho no olhar.
Pois, desci na plataforma,
subi escadas rolantes
e contemplei a grande Metrópole,
assustada com o progresso
que não vi em minha cidade.
Mas, segui alegre cantando
e pelas ruas gritando:
Quero ser poeta,
quero ser poeta...

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