Estudo Do Livro Fundamentos da Fé
Cristã Nº 09
Um manual de Teologia ao alcance de todos.
James Montgomery Boice – Cap. 04
O PROPÓSITO DA LEI DE DEUS
Uma coisa é afirmar uma
doutrina, outra coisa é estar convencido dela e mudar a vida por causa dela.
Isso é verdadeiro em qualquer ensino bíblico, porém mais verdadeiro ainda em
relação à doutrina da Queda e do pecado humano. Esse são ensinamentos difíceis
de digerir e que não aceitamos de imediato. Por isso, Deus parece estender-se
bastante para nos convencer deles.
O principal meio escolhido
por Deus para revelar o pecado e o pecador é a Sua Lei, registrada nas
Escrituras, e a revelação é o propósito primário da Lei. Uma visão comum da Lei
é que o seu propósito é ensinar-nos como sermos bons. Todavia, essa não é a
ênfase da Bíblia.
A verdade que a Lei instrui
aos ímpios para que se abstenham de praticar o mal, e ela ensina também aos
cristãos a expressão da vontade e do caráter de Deus, para que possam formar-se
na vida cristã. Contudo, o objetivo principal da Lei é convencer-nos de que
somos pecadores e precisamos de um Salvador. E de conduzir-nos à Ele.
Alguém já disse que somos
pecadores aos olhos de Deus de três maneiras. Somos pecadores de por nascimento, herdamos
o pecado e a culpa de Adão; por escolha, repetindo por vontade própria os
pecados de nossos antepassados; e por veredicto divino. É pela Lei que o decreto é transmitido à nós. A Lei é o padrão
de Deus diante do qual nos sentimos todos pequenos e, ou somos condenados por
ela, ou somos dirigidos para o Salvador.
DEFININDO A LEI.
O que é a Lei de Deus? Essa
não é uma pergunta fácil de responder, como podemos supor de início. O conceito
da Lei é complexo e difícil de absolver. Temos uma dimensão do problema até
mesmo nos dicionários. Por exemplo, o abrangente dicionário em Inglês de Oxford
lista 23 definições da palavra lei. O
mais limitado Dicionário Webster, por sua vez, lista 9 significados, mais um extenso
parágrafo de sinônimos.
São a perspectiva bíblica,
está escrito no Webster: “A lei judaica ou mosaica contida no Hexateuco, o
Pentateuco mais Josué, em Ezequiel 40 – 48, e, na terminologia cristã, o Antigo
Testamento”.
O significado bíblico é o
que nos interessa neste estudo, entretanto mesmo assim o tema não é simples. Há
variações tanto na utilização do Antigo Testamento como nas aplicações com distinções
diferentes no Novo Testamento. No Antigo Testamento a utilização mais simples
para a palavra lei é para o livro da Lei, identificado como o livro do
Deuteronômio, e, na forma mais específica, como decálogo ou Dez mandamentos,
que são o cerne da Lei judaica.
Essa Lei foi escrita em
tábuas depois que o povo atravessou o rio Jordão no início de suas conquistas
(Dt 27:2,3), as quais eram mantidas na arca da aliança, no interior do
tabernáculo. Mais tarde, a Lei passou a abranger os cinco primeiros livros do
Antigo Testamento, o Pentateuco, também chamado de Torá. Isso teria peso de lei
nos livros históricos para os quais a lei primitiva projetou-se. (1Cr 16:40;
22:12).
Logo o conceito se expandiu
bastante. A frase a lei e os profetas, que aparece com freqüência no Novo
Testamento, porém que estava em uso antes daquele tempo, sugere que a Lei é a
totalidade do Antigo Testamento com exceção dos livros proféticos. No caso dos
Salmos, a palavra parece ir além, até mesmo para estipular a revelação divina
em geral (Sl 1:2; 19:7-9; 94:12).
Nas referências exclusivas
do Novo Testamento, e especial nos escritos de Paulo, aqueles quatro
significados [de lei] do Antigo Testamento, são, ao mesmo tempo, alargados e
estreitados. Assim, por um lado, a lei pode referi-se meramente a um inciso
único da Lei, como Romanos 7:3 – mas, morto o marido, [ela a mulher] livre está
da Lei.
Por outro lado, pode
referir-se a um conceito da lei tão amplo que até os gentios podem balizar-se
por ele. De maneira que, quando os gentios que não tem lei, fazem naturalmente
as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmo são lei (Rm 2:14).
Nos escritos polêmicos de
Paulo, lei pode até mesmo se referir aos estatutos da Lei pelos quais ninguém
pode ser justificado para salvação (Gl 2:15,16; 3:2,5).
No entanto, o que
representa a variedade de definições no uso que a Bíblia faz da palavra da lei?
Se as várias definições fossem contraditórias, isso poderia mostrar que a Bíblia
não fornece uma definição universal aceita do que a lei é. Contudo não há
contradição.
Em outras palavras, a
definição importante é que a Lei é uma expressão do caráter de Deus, e é,
portanto, uma unidade, como Ele próprio é uma unidade, apesar de várias
expressões particulares dela.
RESTRINGINDO O MAL
Porque foi dada a Lei
escrita? Já sugerimos duas respostas para essa pergunta: para nos convencer do
pecado e para nos apontar o Senhor Jesus Cristo como Salvador. Podemos
argumentar que a Lei foi dada a Israel não para todas as nações. Isso seria um
erro por dois motivos. Primeiro: -
passaria por cima do fato que nem todo os Israel eram salvos; a salvação sempre
alcançou os remanescentes, em vez do povo como um todo. Todavia, salvos ou não,
eles estavam debaixo do que era para eles pelo menos uma lei civil, que proibia
certas coisas e afixava certas penalidades.
Segundo: -
Isso ignoraria a similaridade entre a Lei de Israel e as melhores leis das
antigas nações gentias. Essa similaridade demonstra que, embora a Lei do Antigo
Testamento a mais pura expressão do caráter santo de Deus, ainda assim o
caráter de Deus também foi manifesto na consciência moral geral, ainda que de
forma enfraquecida.
A conclusão é que há algum
valor na Lei para os não cristãos, independente da operação do Espírito Santo,
pela qual todos são levados ao arrependimento do pecado e a fé em Cristo.
Como declarou Calvino sobre
isso:
Uma função da lei é [...]
pelo medo da punição, intimidar certos homens que não se importam com o que é
justo e certo, a não ser que sejam compelidos (intimidados) pelas ameaças da
lei, acrescentando que essa justiça forçada e restritiva é necessária para a
comunidade dos homens, para que se garanta aquela tranqüilidade que o Senhor
providenciou quando se preocupou para que as coisas não fossem tão confusas e
tumultuadas” (Calvino).
Já Paulo, parece está
falando dessa função da Lei ao escrever a Timóteo:
“Sabendo isso: que a Lei
não é feita para os justos, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e
pecadores, para os profanos e religiosos, para os parricidas e matricidas, para
os homicidas, para os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de
homens, para os mentirosos, para os perjuros e para o que for contrário à sã
doutrina”. (1Tm 1:9,10).
A lei é boa porque é uma
expressão do caráter de Deus. Todavia, essa não é a base para o relacionamento
entre Ele e o ser humano. Trata-se de uma coisa interina. Assim como houve um
tempo em que a Lei escrita não tinha sido manifesta, talvez haja um tempo em
que não haja mais necessidade dela.
REVELANDO O MAL.
Uma segunda função da Lei é
revelar o pecado e o pecador como tal. Vejamos o que Paulo escreveu: “Mas eu
não conheci pecado senão pela lei: porque eu não conhecia a concupiscência, se
a lei não dissesse: Não cobiçarás”. Rm 7:7).
Também nos fala Paulo: “A
fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno”. (Rm
7:13).
Breves resumos da Lei
ocorrem em toda a Bíblia. Uma pessoa perguntou a Jesus qual era o maior entre
todos os mandamentos da Lei. Jesus respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento (Mt 22:37)
numa referência a Dt 6:5). Ele então acrescentou: E o segundo é semelhante a
este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22:39, numa referência a Lv
19:18)”.
Contudo, a dura realidade é
que não amamos a Deus de todo o nosso coração, nossa alma e nosso pensamento,
que não amamos o nosso próximo como amamos a nós mesmos.
Metade do Decálogo trata de
nossa relação com Deus, assim como Jesus resume o primeiro mandamento. Essa meta
nos mostra que devemos adorar somente a Ele e não devemos ter ídolos, antes,
devemos respeitar o Seu santo nome e guardar o sábado (domingo, depois da
ressurreição de Cristo).
A segunda metade do
Decálogo fala do relacionamento que devemos ter com os outros, como sintetiza o
segundo mandamento apontado por Jesus. Ela nos fala para honrar nossos pais,
não matar, não adulterar, não roubar, não mentir, e não cobiçar qualquer coisa
que seja de outras pessoas. Pena, que não é assim que nos comportamos. Portanto
a Lei expõe os nossos pecados e deixa-nos despidos diante de Deus.
A função da Lei de expor o
pecado foi demonstrada no decorrer da história na época em que a Lei foi dada. Alguns,
podem até objetar nesse ponto, que a expectativa de Deus para que vivamos em
seus padrões de retidão é injusta. Em vez disso, mais do que a ‘regra de ouro’:
“portanto, tudo o que quereis que os homens vos façam, fezei-lho também vós”
(Mt 7:12). Não disse Jesus: Porque esta é a Lei e os profetas?
Contudo, observemos bem, à
parte dessa consideração, respondendo que, em certo sentido, não importa porque
padrões nós seremos julgados, uma vez que estamos condenados também pela ‘regra
de ouro’, porque não fazemos aos outros tudo o que gostaríamos que fosse feito
a nós. E, o que colocar nos padrões mais baixos? O que afirmar dos padrões
complacente do “eu não faço mal a ninguém”? Porque não tratar as pessoas com
delicadeza? Não fazemos isso? Por acaso, sempre tratamos as pessoas com a mesma
medida de delicadeza que aplicaríamos se estivéssemos interessados em alguma
coisa da parte dela? Todos nós sabemos que não agimos dessa forma, pelo menos
não o tempo todo.
Ainda sobre a Lei Calvino
ressaltou: “A Lei é, de fato, um espelho, no qual nós contemplamos nossa
fraqueza e a iniqüidade que emerge dele, e por fim a maldição que procede de
ambas – assim como um espelho nos mostra as manchas em nosso rosto”. (Calvino).
O Apóstolo Paulo declarou:
“Ora, nós sabemos que tudo o que a Lei diz aos que estão debaixo da Lei o diz,
para que toda boca esteja fechada a tudo e todo mundo seja condenável diante de Deus. Por isso,
nenhuma carne será justificada diante dEle pelas obras da lei, porque pela lei
vem o conhecimento do pecado”. (Rm 3:19,20).
O EVANGELHO DA LEI. (Ultima parte)
Embora a função principal
de Lei seja expor o pecado, ela não foi dada para que Deus se deliciasse quando
suas criaturas rebeldes se visse como pecadoras e fosses rejeitadas por Ele, Deus “não esfrega as suas mãos” e
declara: “Bem, pelo menos eles sabem o quanto são pecadores”.
Não! Mesmo assim com a
revelação do pecado, um propósito mais simples da Lei fica evidente que, tendo
descoberto o seu pecado, as pessoas possam voltar-se para Cristo para serem
limpas. O espelho foi providenciado, de forma que, ao verem a sujeira de seu
rosto, as pessoas passarão do espelho para a água e o sabão, com as quais a sujeira pode ser limpa.
A lei, nesse sentido,
inclui não as proibições diante das quais somos condenados, mas também as
promessas de uma perfeita salvação.
Quando o Senhor escolheu
Moisés como ensinador da Lei, Ele também escolheu Arão para ser o sumo
sacerdote. É como Deus, no momento que se revelou no Decálogo, prosseguisse
afirmando calmamente: “Não farás [...], porém eu sei que vocês farão e aqui
está o caminho para sair desse enrascada”.
Todos os sacrifícios do Antigo
Testamento apontavam numa ou noutra direção para a vinda do Senhor Jesus
Cristo. Todavia, o significado do sacrifício de Cristo ficou claro nas
instruções para os dois sacrifícios a serem feitos em Israel no Dia da Expiação.
No primeiro, um bode era
levado a Arão ou ao sacerdote que o sucedeu. O sacerdote colocava suas mãos na cabeça
do animal identificando ele próprio e o povo que ele representava com o bode.
Ele confessava os pecados do povo em oração, como que transferindo de forma
simbólica os pecados para o animal. Então o bode era levado para campo aberto
para ser morto.
A Bíblia descreve assim
aquela cerimônia: “Assim, o bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à
terra solitária, e o homem enviará o bode ao deserto”. (Lv 16:22).
O sacrifício aponta para
Jesus, que, como o bode, padeceu fora da porta para nos lavar das nossas
iniqüidades. (Hb 13:12).
O segundo sacrifício era
feito no átrio do templo, de onde o sangue era levado para o Santo dos Santos
para ser aspergido sobre a arca da aliança. O lugar onde o sangue devia ser
colocado era simbólico (como, aliás, todo o ritual); era chamado de
propiciatório. Estando na cobertura da arca, o propiciatório ficava entre as
tábuas da pedra da Lei de Moisés (no interior da arca) e no espaço entre as
asas estendidas dos querubins sobre a arca (simbolizando o lugar da morada de
Deus).
No entanto, o sacrifício é
realizado; o sumo sacerdote entra no Santo dos Santos e deposita o sangue da
vítima inocente sobre o propiciatório (que simboliza o sangue de Cristo), que
fica entre Deus (com Sua santidade) e nós (com nossos pecados). Houve a
substituição. Um inocente morreu no lugar dos que deveriam ser mortos, e a
prova disso é o sangue ali aspergido. A ira é desviada. Agora Deus contempla os
pecados com graça.
Contudo, seja qual fosse o
nível de entendimento, daquele tempo, o propósito da lei era claro: revelar o
pecado e apontar para a vinda do Senhor Jesus Cristo, como Salvador.
Antes de Deus nos dar as
boas novas do evangelho, Ele nos instruiu com a Lei. No entanto, quando fez
isso, Ele mostrou que a Lei contém em si mesma o evangelho – e que nos conduz a
Ele.
E assim encerramos o
Capítulo quatro. Deixo com cada um dos amigos e irmãos a bênção de Deus Pai do
Céu. Que o Senhor vos abençoe e vos guarde. Que Ele volte para cada um a Sua
face e vos dê a Sua paz. Que vos abençoe o Pai, o Filho e o Espírito Santos.
Amem?
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Próximo assunto para o
próximo sábado é:
OS DEZ MANDAMENTOS E O AMOR
A DEUS
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Fiquem em paz. E que Deus vos abençoe.
À vocês, papais, assim como eu, tenham um
feliz DIA DOS PAIS.
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